Depois de um incêndio que consumiu cerca de 30 hectares de mata, em setembro, o Morro da Serrinha inicia hoje sua retomada – e ela acontece de duas formas. A região localizada aos pés da Serra da Mantiqueira, em Bragança Paulista, a 90 km de São Paulo, vai ganhar um mutirão de reflorestamento.
A data também marca a inauguração do Parque Natural Arte Serrinha. É a união da arte e da preservação ambiental para promover uma retomada verde e recuperar uma região castigada pelas chamas.
O parque fica em uma reserva ecológica particular de 10 hectares (100 mil m²). Lá estão 20 esculturas e instalações inspiradas na Land Art, movimento que começou nos anos 1960 para integrar as obras à natureza. Não são peças de museus ou galerias. Elas "conversam" com os locais que ocupam, mudando de acordo com as passagens das estações, alteração de temperatura e as variações da luz ao longo do dia, por exemplo. São criações de artistas que participaram das 19 edições do tradicional Festival de Arte Serrinha ao longo dos últimos anos.
"Algumas destas obras são permanentes e outras vão desaparecendo ao sabor do sol, da chuva e dos ventos", explica Fábio Delduque, um dos idealizadores do parque e curador do festival. "Elas ocupam a paisagem e, por isso, ampliam as possibilidades de percepção estética e de interação com as pessoas e o entorno."
O espaço conta áreas dedicadas à educação ambiental. Trata-se de um projeto patrocinado pela Energisa e autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que conta a história da região desde a pré-história, com inscrições rupestres encontradas ali, além de espaço para arte, ciência, tecnologia e sustentabilidade. Por conta da pandemia, as atividades ainda não foram retomadas regularmente. O projeto, voltado para a visitação escolar, contribui com a formação de alunos da região de Bragança.
<b>Incêndios</b>
Essa proposta inovadora de arte ao ar livre sofreu com os incêndios que castigaram boa parte da região Sudeste e Centro-Oeste entre setembro e outubro. Metade do morro da Serrinha pegou fogo, que afetou uma área de 30 hectares (300 mil metros quadrados). As casas não foram atingidas, mas duas obras de arte do parque acabaram prejudicadas. Os trabalhos "Repouso", de Laura Gorsky, e "Justiça Selvagem", do artista Lucas Bambozzi, foram danificados e tiveram de ser recuperados para o festival que começa neste final de semana.
Para agir rapidamente na recuperação das áreas afetadas, um mutirão formado pelos próprios artistas, moradores da região e frequentadores vai plantar 200 mudas de árvores. São mudas de cedro, paineira, araçá, jacarandá branco, copaíba, pitanga, grumixama e jatobá, que, passados os incêndios, vão tentar trazer novamente o verde para a região.
Serrinha não é um episódio isolado. O número de focos de incêndio no Estado mais que dobrou entre 1.º de janeiro e 15 de setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o acumulado de focos em 2020 é de 4.293, contra 2.080 no intervalo equivalente do ano passado – uma alta de 106%. Favorecidos pelo tempo seco, os incêndios florestais avançaram em boa parte do País. O crescimento porcentual de focos identificados pelo Inpe em São Paulo é de longe o maior no País para o período. Em segundo lugar, Mato Grosso, com 44%. Na sequência, Santa Catarina, que registrou alta de 43%.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>