Cidades

Às vésperas de reintegração, Capão do Quilombo recebe novas construções

Apesar dos moradores da ocupação Capão do Quilombo, na região do Lavras, viverem a angústia da reintegração de posse, já concedida pela Justiça, o local recebe diversas obras para a construção de novos barracos, conforme o GuarulhosWeb constatou nesta quarta-feira. A reportagem foi até a invasão para verificar como as pessoas estão se preparando para deixar a área. No local, há famílias que vivem por lá há 40 anos, outras há cinco, mas a maior parte está em processo de ocupação. Eles apenas demarcaram os lotes, mas ainda não moram ali. 
 
Nos dias que antecedem a reintegração, os moradores têm realizado diversas manifestações para tentar reverter a ordem da Justiça, expedida no fim de 2015. Segundo os ocupantes, parte da área ocupada não pertence ao requerente e não poderia ser desapropriada. A Polícia Militar informa que a reintegração não tem data marcada.
 
A área está dividida em espaços para abrigar quatro mil famílias e cinco etnias indígenas. A ocupação teve início há cerca de um ano e está localizada dentro de uma propriedade de 3 milhões de metros quadrados. Segundo a associação de moradores, o proprietário vinculado no processo de reintegração teria direito a apenas 1.133.987,80 m³.
 
Para tentar derrubar a decisão da Justiça, os moradores providenciaram um mapeamento topográfico do local para apresentar ao juiz como prova de que o pedido de reintegração é irregular.  O objetivo é obter uma liminar que evite que eles deixem a área. 
 
Enquanto a associação tentar regularizar a situação, os ocupantes continuam os trabalhos de construção das casas improvisadas ou moradias de alvenaria. No local não há energia elétrica ou abastecimento de água. O movimento de carros e motos levando material para o interior da ocupação é intenso.
 
Poucas famílias moram no local. Algumas passam o dia organizando a área e retornam para suas casas fixas, outras passam a noite para não perder sua demarcação. Alguns comércios improvisados como pequenas padarias, bares e restaurantes já foram abertos entre os terrenos demarcados. 
 
Na terça-feira (16), policiais militares estiveram na ocupação para desmontar 15 barracos desocupados e conversar com os moradores. Para evitar uma nova ação da PM, os moradores fecharam as seis entradas do terreno com madeira e pneus, numa espécie de barricadas. 
 
O GuarulhosWeb entrou em contato com o 31º Batalhão da PM, responsável pela área, que afirmou estar em contato com os ocupantes realizando entrega de panfletos no local, esclarecendo sobre o processo de reintegração de posse, além de reuniões com seus representantes.
Segundo moradores, nenhum órgão da prefeitura esteve no local para apoiar ou notificar as famílias sobre riscos.
 
Famílias vivem há 40 anos na área
 
Janice Costa vive no Capão do Quilombo há 21 anos. Ela disse que um homem que se identificava como Walter era proprietário da área, que contava com uma chácara com plantações e criação de animais. Algumas famílias de funcionários moravam e trabalhavam na área. Há cerca de cinco anos, Walter encerrou as atividades que mantinha ali, mas permitiu que as famílias permanecessem na área.
 
Na casa de Janice vivem 7 pessoas. “Um dia chegaram algumas pessoas aqui, falaram que nós tínhamos que deixar a área e tínhamos direito de procurar um advogado, mas nós não temos para onde ir”, contou.
 
A moradora mais antiga é Célia da Silva, que vive no local há 40 anos. Ela conta que já trabalhou na lavoura e recebeu o pedaço de terra do antigo patrão. “Meu filho tem 30 anos, nasceu e se criou aqui, eu sempre vivi aqui tranquilamente, nunca falaram nada que teríamos que sair. Quero ficar onde estou, não quero sair”, explicou.
 

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