Cidades

Bares e restaurantes de Guarulhos terão cardápio em Braile

Ir a um restaurante, saber sobre o cardápio e fazer o pedido com autonomia e independência começa a ser possível para os deficientes visuais da cidade. Nesta quarta-feira (8) a Prefeitura lançou uma versão de Cardápio em Braille, que permite a leitura de forma tátil (com o toque dos dedos) para atender a demanda das pessoas com limitações visuais que já frequentam estabelecimentos que comercializam refeições e lanches – ou que evitam esses lugares justamente pelo constrangimento de ter de pedir para alguém ler o menu.
 
Outra boa notícia é que essa iniciativa, que ajuda a reduzir o constrangimento e integra as pessoas com limitações visuais nos seus vários níveis, está disponível para os estabelecimentos interessados em oferecer um menu tátil de lanches, refeições, petiscos e bebidas a seus clientes.
 
“Além do cumprimento da lei, o lançamento do Cardápio em Braille garante a equiparação de direitos e de oportunidades para as pessoas com deficiência visual”, afirma Carlos Alexandre Campos, coordenador da Pastoral da Pessoa com Deficiência de São Paulo e representante da Fundação Memorial da América Latina. Também deficiente visual, Donizete Miloch, do Departamento de Turismo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), acrescenta: “O Cardápio em Braille dá essa autonomia, de saber o que você quer e fazer o pedido, em vez de tirar o atendente que está em outro serviço para fazer a leitura para o deficiente visual”.
 
Para Firmino Manoel da Silva, responsável pela Coordenadoria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, o lançamento do menu tátil elimina o constrangimento pelo qual passa o deficiente visual ao ir a um restaurante e é um grande avanço no esforço da Prefeitura de incluir os deficientes visuais.
 
“O Cardápio em Braille é um grande avanço para Guarulhos e pode virar um case, um modelo para outras cidades”, avalia. Prossegue: “A quebra da barreira de comunicação é muito importante na vida do ser humano, pois era muito complicado e constrangedor para uma pessoa com deficiência visual ter de pedir para alguém ler o cardápio e lhe dizer o que havia ali”. Firmino lembra ainda que, por estar amparado em lei federal, estadual e também municipal, a falta de adesão ao cardápio nos estabelecimentos pode gerar multa de 300 UFIRs (R$ 878,76), e, em última instância, perda do alvará de funcionamento.
 
Os interessados em obter o Cardápio em Braille devem procurar a Coordenadoria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (2414-3685) ou o Departamento de Turismo da SDE (2475-7926) – parceiros no desenvolvimento do menu. Segundo a diretora de Turismo da SDE, Josefa Gonçalves de Santana Leôncio, “é de nosso interesse que a divulgação traga mais estabelecimentos interessados no Cardápio em Braille e que os estabelecimentos de toda a cidade possam oferecer essa possibilidade às pessoas com deficiência visual”, garante.
 
Os restaurantes que apostaram na iniciativa e são os primeiros a oferecer o menu tátil aos seus clientes são os dos hotéis Monreale e Bristol. Também participam desse esforço o Convention Bureau, a Associação Gastronômica de Guarulhos (AGG) e o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Guarulhos e o Conselho Municipal de Turismo (Comtur).
 
Cidadania e bons negócios
 
Para os representantes do hotel que participaram da cerimônia de entrega dos primeiros exemplares do menu tátil, no auditório do Paço Municipal, a iniciativa é um dever, por estar previsto em lei, mas também a oportunidade inclusão e de ampliar os negócios: “Para nós, além da questão da inclusão, da cidadania, o acesso ao cardápio é um diferencial e evita que tenhamos uma pessoa dedicada para ler o menu”, explica Heleno Aredes Cardoso, gerente Geral do Monreale.
 
“O deficiente também precisa ser bem atendido se não ele perde a motivação e fica em casa, se você não oferece táxis e ônibus adaptados, motoristas treinados, rampas nas calçadas e outras formas de inclusão, o deficiente fica em casa. Então, a Prefeitura está de parabéns e nós, hoteleiros, juntamente com o Comtur, também, porque abraçamos essa causa e somos os pioneiros na oferta do Cardápio em Braille”.
 
Trabalho em Braille
 
Chegar à versão final do Cardápio Braille não foi tarefa fácil. Coube a educadora social Vanessa Carilho Lanzarotto, da Coordenadoria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, converter os textos para a linguagem tátil usada pelas pessoas com limitações visuais como ela, com 5% da visão, além de editar, revisar e imprimir todo o conteúdo.
 
O trabalho com o menu, explicou, começou no Departamento de Turismo que visitou vários restaurantes para conhecer os cardápios. Após esse trabalho de campo, os catálogos dos hotéis Monreale e Bristol chegaram à coordenadoria. Aí, entrou em cena a mão de obra de Glaucia Dal Secco, engenheira civil da Coordenadoria, que digitou, traduziu e ajudou Vanessa na revisão do material.
 
“O mais complicado é que um dos cardápios foi feito em três idiomas – inglês, espanhol e português – e os símbolos são diferentes da língua portuguesa em Braille”, contou Vanessa que explica que houve o trabalho de converter o texto e revisar numa língua diferente, com letras como “Ñ”, que não existe no Braille em português. Além disso, explicou, a escrita em Braille tem duas ou três vezes mais volume e um pequeno texto em português pode se transformar em um texto muito maior em Braille.

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