Após série negativa desde a última terça-feira, o Ibovespa chegou a ensaiar reação ainda que moderada em boa parte deste pós-feriado, mas acabou inclinado à quinta retração consecutiva, a mais longa sequência de perdas do índice desde as seis observadas no intervalo entre 3 e 10 de janeiro do ano passado. Ao final desta terça-feira, 26, o Ibovespa ficou abaixo dos 117 mil pontos, em seu menor nível de encerramento desde o dia 21 de dezembro (115.822,57 pontos). Hoje, mostrava queda de 0,78%, aos 116.464,06 pontos, tendo oscilado entre mínima de 116.109,10 e máxima de 119.167,14 pontos nesta terça, com giro financeiro a R$ 35,3 bilhões.
No ano, as perdas estão agora em 2,15%, com o Ibovespa vindo de quedas de 2,47% e 3,78% nas duas últimas semanas, depois de avanço de 5,09% acumulado na primeira de 2021.
A ata do Copom, divulgada nesta terça-feira, levou instituições financeiras a reverem previsões de elevação da Selic, com aumento das apostas de que um ajuste inicial virá já em março. Hoje, o Bank of America (BofA) passou a prever alta de 0,50 ponto porcentual em março, com Selic a 4% no fim do ano, enquanto o Itaú Unibanco também estima agora elevação em março, mas de 0,25 ponto, com a taxa de referência, hoje em 2% ao ano, chegando a 3,5% no fechamento de 2021. Por sua vez, o Barclays aponta aumento em maio, levando a taxa básica a 4% ao final do ano, e o Credit Suisse, assim como BofA e Itaú, vê aumento ainda em março – antes o banco suíço previa para junho.
"A ata veio um pouco mais hawkish do que o comunicado da reunião. O ajuste (nos juros) deve vir antes do que se imaginava e é preciso ver, a partir de agora, até onde isso irá", diz Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez. "O mercado teve uma primeira semana do ano muito forte, colocando muita coisa positiva no preço. Agora, para o curto e médio prazo no Ibovespa, começa a se rever para baixo a expectativa de crescimento do PIB em 2021 por conta do ritmo do programa de vacinação, um pouco aquém do que o mercado esperava – o que atrasa a retomada, assim como novos fechamentos em São Paulo", acrescenta Lucci, que vê espaço para uma correção maior, uma vez definidos os presidentes da Câmara e do Senado, a depender das sinalizações que emergirão sobre o fiscal e o teto de gastos.
Assim, apesar do forte ajuste negativo do dólar – que na mínima do dia tocou R$ 5,3139, com fechamento a R$ 5,3269, em queda de 3,30% -, o Ibovespa foi para as mínimas da sessão, cedendo a linha de 117 mil. Por um lado, o câmbio refletiu a expectativa de respeito ao teto de gastos, reiterada hoje pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro Paulo Guedes, enquanto, por outro, a Bolsa estendeu a correção, frente perspectiva de juros mais altos antes do que se previa, em um cenário econômico ainda enevoado pelo lento avanço da vacinação, que tende a retardar a normalização das atividades.
O noticiário corporativo também deu sua contribuição: na ponta negativa do Ibovespa, Eletrobras refletiu a saída do presidente, Wilson Ferreira Jr, com perda de 9,69% na ON e de 6,80% na PNB no fechamento. Commodities (Vale ON -1,52%, Petrobras ON -0,47%), siderurgia (Gerdau PN -5,17%, Usiminas -4,52%) e bancos (Itaú PN -3,35%, Santander -3,23%) também recuaram na sessão.
"Se olharmos a série do Ibovespa, estamos vindo de dez semanas de ganhos (até o ajuste das últimas duas semanas). É plausível esta correção, que pode ser até mais forte, levando o índice aos 110 mil ou mesmo aos 100 mil pontos, se houver um estresse maior. Aos 110 mil, ainda estaria se respeitando a tendência de alta, e abriria espaço também para compras", diz Leonardo Peggau, sócio e superintendente de renda variável da BlueTrade, que vê com tranquilidade os sinais, na ata do Copom, de antecipação do momento em que o BC iniciará a elevação da Selic. "O Brasil não tem maturidade para juro de 2% ao ano – se pegarmos o DI 27, está em 7%. Com a Selic a 5% ou 6%, o carry trade voltaria a ficar interessante."