Bolsa fecha em queda de 4,65% com transmissão local de coronavírus

Confirmados os primeiros casos de transmissão local de coronavírus no País, e a ampliação da contagem da doença pelo Ministério da Saúde, o Ibovespa ingressou em queda livre no fim da tarde desta quinta-feira, 5, chegando a perder 6,24% na mínima do dia, aos 100.536,15 pontos, e passando então a limitar o movimento para fechar a sessão aos 102.233,24 pontos, em baixa de 4,65%, atingindo assim o menor nível de fechamento desde 10 de outubro. Dentre as componentes do índice, ações de quatro empresas entraram em leilão: IRB, B2W, JBS e CVC, com perdas acima de 10%.

Na ponta negativa do Ibovespa, Gol cedeu 16,77%, IRB caiu 16,17% e Azul perdeu 14,53%, seguidas por CVC (-9,83%) e MRV (-9,30%) no fechamento. Nenhuma ação componente do Ibovespa conseguiu encerrar o dia em alta. Entre as blue chips, Vale ON caiu 3,54% e Petrobras PN cedeu 5,95%.

A onda de vendas foi o fecho de um dia nervoso, com o dólar em novas máximas – em escalada tratada com naturalidade pelo ministro da Economia, Paulo Guedes – e o cenário externo conturbado pela elevada incerteza sobre o efeito da doença na economia global. O giro financeiro ficou em R$ 30,2 bilhões. Na semana, o Ibovespa cede agora 1,86% e, no ano, perde 11,60%.

O mau humor que prevalecia desde a abertura deu lugar no fim da tarde a uma onda de renovação de mínimas, com o coronavírus passando a ser tratado como um problema ainda mais próximo, após o anúncio, pelo Ministério da Saúde, de que o Covid-19 teve as primeiras confirmações de transmissão local: duas pessoas foram infectadas no Brasil pela primeira confirmada com o coronavírus, em 25 de fevereiro, em São Paulo. Um deles esteve em confraternização do paciente com cerca de 30 familiares.

Mais cedo, o Ibovespa já vinha em queda, mas em ajuste mais moderado do que o observado em Nova York – a situação se inverteu com a atualização dos números do coronavírus. Desde cedo a aversão a risco dava o tom, com a Califórnia, estado mais rico dos EUA, tendo declarado estado de emergência pelo coronavírus, e o alerta da Iata, a associação internacional da aviação comercial, de que a epidemia pode resultar em perdas de até US$ 113 bilhões para o setor, com a redução da demanda por viagens aéreas, que já resulta em diminuição da oferta de voos para os próximos meses – e na falência da primeira companhia aérea, a britânica Flybe.

No Brasil, a atenção segue concentrada também no dólar, na medida em que os esforços do BC para conter a progressão da moeda por meio de oferta de contratos de swap não têm surtido o efeito pretendido, o que parece levar o mercado a testar novos limites, mesmo com o BC tendo ofertado US$ 5,5 bilhões desde a semana passada.

Hoje, após evento na Fiesp, o ministro Paulo Guedes chegou a responsabilizar a imprensa, em parte, pela esticada da moeda americana."Tem o coronavírus, a desaceleração global, incertezas. O que vocês (imprensa) estavam dizendo há um ou dois dias? Que está um caos, que o presidente não se entende com o Congresso, que não está havendo coordenação política, toda hora tem uma bomba… Se está havendo todo esse frisson, o dólar sobe um pouco", observou.

Para o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, os ruídos políticos não ajudam em um momento no qual os dados econômicos domésticos estão abaixo do desejável e o cenário externo, incerto, tem sido o catalisador hegemônico. "Já tivemos um PIB em 2019 abaixo do que poderia ter sido. As reformas precisam avançar e, para que isso ocorra, depende-se do Congresso."

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