Com medo de perder cargos, a bancada baiana do DEM declarou apoio ao deputado Arthur Lira (PP-AL) na disputa à presidência da Câmara. O grupo é ligado ao ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do partido, ACM Neto. Há movimentos semelhantes no PSDB e no PDT a favor do líder do Centrão e candidato do presidente Jair Bolsonaro. Oficialmente, as legendas apoiam Baleia Rossi (MDB-SP), candidato de Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara.
Os democratas e tucanos têm apadrinhados na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), órgãos federais de orçamentos robustos.
Depois de ensaiar um discurso de renovação e se afastar do bloco do Centrão, os integrantes do DEM começam a se aliar ao bloco símbolo do fisiologismo. Os apoios a Lira vieram justamente dos cinco deputados da bancada da Bahia, a maior do partido, onde quem comanda é ACM Neto, herdeiro político do Carlismo.
Rodrigo Maia, também considerado um líder nacional do partido, trabalha ativamente para emplacar Baleia como sucessor. Ele atribuiu a dissidência a uma tentativa da candidatura patrocinada pelo Palácio do Planalto de "criar conflito interno" nos partidos.
Maia calculou que dos 32 votos do DEM, 22 devem ficar com Baleia. Procurado, ACM Neto não retornou os contatos. Além do quinteto baiano no DEM, partidários de Lira na sigla fazem circular nos bastidores uma lista de apoio que inclui outros nove deputados, num total de 14 votos.
Dona de cargos cobiçados no governo e majoritariamente governista, a bancada baiana do Democratas almoçou e posou para fotos com o candidato do Planalto durante encontro em Salvador (BA) nesta segunda, 25. Aparecem na foto abraçados a Arthur Lira os deputados Arthur Maia, Elmar Nascimento, Paulo Azi, Leur Lomanto Jr e Igor Kannário. Azi é presidente regional da sigla e aliado de primeira hora de ACM.
Enquanto a bancada do DEM na Bahia confraternizava com Lira em Salvador, em Brasília Maia dizia que ACM Neto comunicaria algo diferente ao candidato bolsonarista: "ACM Neto vai recebê-lo para informá-lo que o Democratas vai apoiar a candidatura do deputado Baleia seja na Bahia ou nos outros Estados. Certamente daremos a maior parte dos votos do DEM para Baleia". Neto se reuniu à tarde com Lira e não falou com a imprensa no domingo.
A dissidência no DEM era iminente. Ex-líder da bancada, Elmar Nascimento (BA) desejava disputar a sucessão de Maia, mas foi preterido e surgiu como um dos próceres do movimento divergente. Elmar é o padrinho político de Marcelo Andrade Moreira Pinto, diretor-presidente da Codevasf. "Não tem nada a ver (o apoio com a manutenção dos cargos). A responsabilidade lá (na Codevasf) é só minha. Eu já estou apoiando o Arthur há tempos", disse Elmar.
O PDT foi um dos partidos que tiveram sondagem do Palácio do Planalto, assim como o PSB. O núcleo de Pernambuco, mais forte no partido, tem dissidentes. Em dezembro, deputados de oposição nestas duas legendas foram assediados pelo Planalto e estiveram em reunião na Secretaria de Governo, do ministro Luiz Eduardo Ramos. Segundo relatos, a conversa girou em torno da liberação de até R$ 5 milhões em emendas extra-orçamentárias, uma forma de os deputados indicarem aos ministérios gastos em suas bases eleitorais. O deputado e pastor Alex Santana (PDT-BA) foi um dos que passou pela Segov. Ele agora apoia Lira.
No PSDB, a dissidência na bancada também passa pela manutenção de cargos. Um dos presentes ao almoço pró-Lira foi Adolfo Viana (BA), padrinho político de Lucas Lobão, presidente na Bahia do Dnocs, o órgão de combate à seca.
O chefe da Sudene, Evaldo Cavalcanti da Cruz Neto, é cunhado do deputado Pedro Cunha Lima (PSBD-PB), filho do ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que já ocupou o cargo.
O atual comando do órgão foi ofertado em articulação pelo ministro Ramos, ainda no ano passado, em esforço para se aproximar de setores tucanos. Pedro Cunha Lima defende a vitória de Lira na disputa interna e tem dito a interlocutores que, embora mantenha postura crítica com relação ao governo, não seria interessante ao País neste momento que a oposição controlasse a Câmara.