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Comércios viram bens imateriais no Rio

“Nosso segredo é simples: não mudar nada e manter a tradição”, diz Milton Maciel de Andrade, de 73 anos, sócio da Confeitaria Cirandinha, inaugurada em 1957 na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, na zona sul do Rio. O local é um dos 13 estabelecimentos comerciais inscritos neste ano na categoria de bens imateriais da cidade.

A relação inclui chapelarias, tabacarias, uma gráfica, um sebo e lojas de música e de cofres, entre outros pontos do comércio tradicional de rua. O único benefício financeiro previsto é a redução do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), desde que características originais sejam mantidas. No entanto, muitos desses imóveis já têm desconto no imposto, por estarem em áreas preservadas, no caso do centro.

O presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), Washington Fajardo, diz que vai propor a isenção do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), mas por enquanto não há nenhuma garantia. Ele reconhece que a medida não é suficiente para manter os negócios. “Algumas atividades estão fadadas a desaparecer, por causa de aspectos como mudanças tecnológicas e comportamentais. A relação tem também a função de guardar a memória, dar mais autoestima, chamar a atenção e contribuir para a vitalidade da cidade”, diz Fajardo.

Segundo ele, foi firmado convênio com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para traçar “estratégias de sobrevivência” e ajudar a manter a tradição vinculada a serviços ou produtos.

Antes de ser um dos sócios da Cirandinha, fundada por imigrantes espanhóis, Andrade trabalhou por 40 anos como garçom e maître da confeitaria, que tem hoje 60 funcionários. Ele diz que a decisão da prefeitura “não influi, mas é um reconhecimento”. “Vamos continuar do mesmo jeito. Nos pratos, no paladar e no atendimento.”

Os mais pedidos do cardápio são o medalhão à piemontesa, o waffle e o chá. “Venho quase todos os dias há mais de 40 anos. Gosto de tudo”, diz Maria Souza, de 94 anos.

Também em Copacabana, a Confeitaria La Marquise, inaugurada em 1950 e incluída na relação da prefeitura, foi responsável pela produção dos doces servidos no Copacabana Palace até 1988. Dos 13 estabelecimentos, são os únicos fora do centro.

Sem benefício

Sócia da Gráfica Marly, Cirlea Tavares é casada com Itamar Kobylinski Moreira, que pertence à terceira geração da família à frente do negócio artesanal, fundado em 1946. Ela diz não ver benefício na medida da prefeitura. Em agosto, a gráfica precisou deixar a Praça Mauá e migrar para o sobrado onde funciona a Alternativa Arte em Serigrafia, na Rua do Livramento. “Quase fechamos. Sem essa parceria com o Marcus Reis (da Alternativa), não teríamos continuado. Agora não muda nada, porque já temos o benefício do IPTU, por se tratar de um prédio antigo.” Lá, o contrato do aluguel é antigo, mas o valor deve subir com a reforma da região portuária. “Nas conversas com a prefeitura muitas coisas foram estudadas, mas na prática não houve nada.”

Emne Al-Haje é neta do imigrante sírio que fundou a Charutaria Syria, em 1912. Por se tratar de imóvel histórico, ela também já é beneficiada pela redução do IPTU. “Acho importante o registro para que a informação não se perca, porque muitos estabelecimentos infelizmente estão desaparecendo.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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