O dólar devolveu nesta terça-feira, 23, parte da alta da segunda-feira, mas o movimento de queda perdeu força na reta final do pregão e a moeda ainda segue acima dos R$ 5,40. O cenário externo ajudou, sobretudo com declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, que contribuíram para minimizar temores de disparada da inflação nos Estados Unidos. No noticiário interno, o Congresso e o governo se empenharam em mostrar comprometimento com o avanço das reformas, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, fez elogios públicos ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem evitado dar declarações nos últimos dias. Operadores, porém, ressaltam que o quadro de incerteza com Brasília permanece muito alto e é difícil o real se valorizar neste momento.
No fechamento, o dólar à vista terminou o dia em queda de 0,21%, a R$ 5,4422. No mercado futuro, o dólar para março recuou 0,47%, a R$ 5,4435.
O discurso de Powell teve efeito no mercado de moedas mundial, com o dólar perdendo força ante divisas fortes e emergentes. O DXY, que mede o comportamento da moeda americana ante divisas como euro e iene, chegou a zerar alta logo após o discurso.
O economista do banco canadense CIBC Capital Markets, Avery Shenfeld, comenta que Powell mostrou que o Fed vai seguir apoiando a economia, que ainda tem um caminho longo até se recuperar totalmente. Sobre a inflação, Powell afirmou que não espera elevação "significativa e sustentada" dos preços, que devem ficar voláteis. Este temor, que faz os yields do Treasuries americanos subirem, vinha crescendo nos últimos dias e ajudando a enfraquecer as moedas emergentes. A preocupação é que a volta da inflação faria o Fed e outros bancos centrais a reduzirem estímulos e enxugar a liquidez dos mercados, o que Powell disse nesta terça que não acontecerá.
No mercado doméstico, o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Roberto Fendt, que substituiu Guedes em evento, avaliou que o processo de reformas vai se acelerar agora. "Temos altas expectativas de que a troca do comando na Câmara e no Senado será boa para as reformas. O processo de reformas vai acelerar agora, não estava tão rápido como desejávamos", avaliou. Já Guedes se reuniu com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O parlamentar prometeu avançar com as reformas, incluindo a tributária e privatizações.
Para Klaus Spielkamp, responsável em Miami pela área de vendas e trading da Bulltick, o ambiente de "iminente aprovação" do plano de estimulo trilionário dos EUA, deve dar nova onda de otimismo internacional nos mercados de risco. "O Brasil pode se apresentar atrativo nesse momento", destaca ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
Mas para isso, destaca que é preciso avançar com as reformas, de forma urgente, o que exige estabilidade política e econômica, fatores que se complicaram nos últimos dias, em meio à pressão por mais gastos com o auxílio emergencial e o episódio da Petrobras.