Dois dias depois de a Kroton, maior instituição de ensino superior privado do País, ter informado ao mercado que estava avaliando a compra da Estácio, segunda maior, outra instituição se apressou e também entrou na disputa. No sábado, a Ser Educacional, a sexta do ranking entre as instituições privadas, apresentou ao conselho de administração da Estácio uma proposta de fusão. A combinação das duas empresas daria origem a uma companhia com 740 mil alunos e R$ 4 bilhões em receita.
Em fato relevante enviado no domingo, 5, à noite à noite à Comissão de Valores Mobiliários, o grupo pernambucano informou que, segundo a proposta, os acionistas da Estácio deteriam 68,7% do capital social da empresa combinada, enquanto os do grupo Ser Educacional ficariam com os 31,3% restantes. Segundo o documento, a Estácio faria ainda o pagamento de dividendos extraordinários no valor de R$ 590 milhões aos seus atuais acionistas.
A investida, tanto do grupo Ser quanto da Kroton, se justifica em razão das dificuldades que o setor de educação tem enfrentado no País. Com a recessão econômica e a redução das verbas federais para o financiamento do ensino superior privado por meio do Fies, fusões e aquisições passaram a ser consideradas estratégias mais eficientes para se ganhar mercado.
Outra questão que despertou o interesse das rivais na Estácio foi o fato de as ações da companhia terem se desvalorizado nos últimos tempos. Até 1.º de junho, um dia antes do anúncio da Kroton, os papéis da Estácio acumulavam perdas de 35% em um ano. No dia em que a intenção da Kroton se tornou pública – segundo a empresa, uma oferta oficial será feita em até duas semanas -, as ações da Estácio dispararam mais de 20%.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Jânyo Diniz, presidente da Ser Educacional e irmão do fundador do grupo, Janguiê Diniz, afirmou que a companhia já vinha fazendo simulações com vários concorrentes, avaliando nível de complementariedade e sinergias operacionais, acadêmicas e comerciais. "Diante do ocorrido na semana passada, aceleramos nossa proposta", afirmou.
Para assessorar o grupo, foram contratados o banco Credit Suisse e o escritório de advocacia Pinheiro Neto.
Segundo o executivo, a oferta apresentada pela Ser Educacional não está focada apenas nas sinergias imediatas da fusão. "Na nossa proposta, há ainda geração de valor no médio e no longo prazos", diz.
De acordo com Diniz, juntas, as empresas ainda terão condições de crescer de forma orgânica na educação presencial e no ensino à distância, além de poderem pensar em futuras aquisições, já que ainda teriam uma participação de mercado que possibilitaria novas compras.
A nova empresa formada por Estácio e Ser Educacional seria a segunda do ranking das maiores companhias privadas de educação, com cerca de 10% do mercado. Mas ainda estaria bem distante da fatia de 16,5% da Kroton, líder absoluta do setor após ter comprado a Anhanguera Educacional, em 2013, até então vice-líder do ranking.
Novas propostas
Para Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria, especializada em educação, o mercado de ensino é "uma arena competitiva" e não seria surpresa a entrada de novos rivais na disputa pela Estácio. "Há players fortes e capitalizados dispostos a crescer no mercado brasileiro, como os fundos americanos Apollo Education (que chegou no País em 2014, com a compra da Fael, do Paraná) e Advent (que, depois de ter participado do controle da Kroton, voltou a investir no setor este ano, com a compra da Faculdade da Serra Gaúcha, de Caxias do Sul)."
Em fato relevante enviado à CVM na noite de domingo, a Estácio informou a criação de um comitê para assessorar o conselho de administração na avaliação e possível negociação de qualquer proposta que venha a ser formulada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.