De uma maneira geral, estudantes que fizeram hoje prova no campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) acharam fáceis as questões contidas na primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Na Uerj, estavam habilitados para fazer as provas de Ciências da Natureza e Humanas 4.260 estudantes e a grande maioria deixou as salas bem antes das 18h, horário limite para que os estudantes respondessem 90 questões.
Faltavam 45 minutos para o encerramento da primeira etapa do Enem quando o teólogo Zedequias de Oliveira Bastos, 58 anos, deixava os corredores da universidade.
Sorridente, ele não teve dúvidas em afirmar: “A prova estava fácil e eu acredito, pelo meus conhecimentos adquiridos ao longo da vida, que fui muito bem. Estou bastante animado, não chego a dizer que gabaritei [a prova], mas tenho absoluta certeza de que fui muito bem e, pelo meu conhecimento geral, não tenho dúvidas disso”.
Carioca do Méier, pai de cinco filhos, o bacharel em Teologia achou apenas que havia questões “um tanto quanto abstratas” e que exigiam maior atenção dos estudantes.
Mas o que leva um homem de 58 anos, com movimentos limitados desde a infância em razão de uma polimielite contraída em 1957, a se misturar a centenas de jovens em busca de uma graduação em Direito?
“Primeiro, há a questão de estar se atualizando, de não ficar com a mente vazia – o que não é uma boa coisa. E também para dar exemplo para os meus cinco filhos. E uma filha está tentando o Enem aqui comigo”.
“Em segundo lugar, há a vontade de ajudar. Há muitas pessoas por aí que necessitam e não tem como pagar um advogado. Então, é ajudar os mais necessitados. Eu tive poliomielite no surto de 1957, tive uma pequena sequela, que foi agravada com um acidente de carro. Mas estou bem e, apesar da muleta, dirijo e toco a vida normalmente. E essas dificuldades até me tornam mais forte. Ao invés de me colocarem pra baixo, elas me colocam pra cima, porque a mente não tem barreira”, diz.
Para Bernardo Teixeira, 17 anos, postulante a uma vaga na área de Desenho Industrial, a prova também não estava difícil. “As questões estavam bem formuladas e bastava um pouco mais de atenção e, claro, de conhecimento geral para que as questões fossem respondidas em tempo hábil”, afirmou.
De cabeça baixa e deixando claro que não tinha mais esperanças de sucesso no Enem de 2015, Bruna Martins Ferreira Cavalcante, 17 anos, já traçava planos para 2016.
“A prova estava muito mais difícil do que eu pensava e, se terminei em menos de três horas, foi porque, em determinado momento, comecei a sair marcando qualquer coisa. Fui mal e realmente não esperava que a prova estivesse tão difícil. E eu que queria Medicina vou ter que tentar no próximo ano”, disse, jogando a toalha já no primeiro dia de prova.
Já para a orientadora pedagógica e estudante de Comunicação Débora C. Leão, a prova estava fácil, porém, mais “tendenciosa” do que a do ano passado. “A prova não estava difícil, estava até fácil, embora contivesse algumas questões tendenciosas”, avaliou.
Débora se referia à questão de número 38 (Ciência Humanas e Suas Tecnologias) realizada a partir de uma afirmação de 1960, de Simone de Beauvoir, objetivando contribuir para estruturar um movimento social de organização de protestos para garantir a igualdade de gênero.
“Eu acho que fica difícil para a gente se posicionar em questão contida em uma prova que quer uma resposta especifica. Mas qualquer um que tem uma capacidade interpretativa um pouco mais avançada consegue passar por isso tranquilamente”, observou.
Para a estudante de Comunicação, ao abordar questões envolvendo gênero, o exame iniciou uma série de ações afirmativas que inevitavelmente levavam a respostas direcionadas.
“E eu acho que qualquer presença de uma tendência, de uma vontade de manipulação em um exame, que, na verdade deveria ser isento de qualquer tipo de posicionamento, isso não é adequado. Eu acho que direcionar o pensamento de alguém para qualquer tipo de opção de resposta não é correto. Até porque, se eu quisesse me posicionar contra aquela afirmação de Simone, que nem é o caso, eu não encontraria espaço”.