O Irã libertou a acadêmica australiana-britânica Kylie Moore-Gilbert, que cumpria 10 anos de prisão por espionagem, em troca de três iranianos detidos no exterior, informou na quarta-feira, 25, a televisão pública.
"Um empresário e (outros) dois cidadãos iranianos detidos no exterior (…) foram libertados em troca da espiã com dupla cidadania que trabalhava" para Israel, informou o site da estação de televisão Iribnews.
O site da emissora estatal não deu detalhes adicionais sobre a troca, mas postou um vídeo no qual dois homens são recebidos com honras por funcionários e algumas imagens de uma mulher com véu, que parece ser Moore-Gilbert, a bordo de um veículo.
Moore-Gilbert cumpria uma sentença de 10 anos, grande parte dela na notória prisão de Evin, no Irã, e fez várias greves de fome em oposição à sua condenação. Ela disse que seu estado mental estava se deteriorando com o confinamento solitário e a detenção prolongada.
A prisão de Moore-Gilbert foi confirmada em setembro de 2019, mas sua família indicou que ela havia sido presa vários meses antes. Ela sempre negou ser uma espiã.
A imprensa iraniana fez muito poucas referências ao seu caso e as poucas informações disponíveis sobre ela vêm de autoridades australianas, sua família e jornais britânicos ou australianos.
Segundo o jornal britânico <i>The Guardian</i>, ela foi presa em setembro de 2018 no aeroporto de Teerã após ter participado de um congresso acadêmico.
Em cartas publicadas em janeiro pelo <i>The Guardian</i> e pelo <i>Times</i>, ela dizia ter rejeitado uma oferta dos iranianos para espionar seus serviços.
Em um dos dez documentos manuscritos escritos em persa rudimentar para as autoridades iranianas, expressava sua "rejeição oficial e definitiva" à oferta de "trabalhar com o serviço de inteligência dos Guardiães da Revolução", o exército ideológico da República Islâmica, de acordo com ambos os jornais.
Ela se sentia "abandonada e esquecida" e mencionava nas cartas escritas entre junho e dezembro de 2019 que levava uma existência precária e carente, sem visitas ou ligações, e com frequentes problemas de saúde.
O Irã tem uma longa história de detenção de cidadãos estrangeiros e de dupla nacionalidade sob acusações falsas de espionagem e de trocá-los por iranianos encarcerados no exterior – especialmente aqueles acusados e ajudar o Irã a violar as sanções.
"O Irã tem usado a tomada de reféns como uma ferramenta de governo por quatro décadas. Os Guardas Revolucionários acreditam que dá resultados", disse Karim Sadjadpour, um membro sênior do programa para o Oriente Médio no Carnegie Endowment for International Peace. "Entre as tragédias do Irã moderno está uma sociedade que é famosa por sua hospitalidade para com os estrangeiros e um regime que os vê como ativos potenciais a serem negociados."
A troca de prisioneiros aconteceu cinco meses depois que o Irã libertou um veterano da Marinha americana, Michael R. White, como parte de uma troca de prisioneiros. (Com agências internacionais)