"Não tem como não estar ansioso, né?", questionava o presidente da Portuguesa, Antônio Carlos Castanheira, antes de a bola rolar no Canindé, nesta quarta-feira, na decisão da Copa Paulista. Para o mandatário do clube, que assumiu o cargo no dia 2 de janeiro, o duelo que garantiu ao time seu retorno a uma divisão nacional foi como a disputa de uma Copa do Mundo.
"Apesar das adversidades da temporada, nosso objetivo foi conquistado. Independentemente de ser Brasileiro ou Copa do Brasil, voltamos ao cenário nacional", avalia Castanheira. Essa era a maior ambição do time rubro-verde. Mas não a única. O vencedor da Copa Paulista tinha a prerrogativa de escolher qual torneio queria disputar em 2021, a Copa do Brasil, cujo premiação da CBF pode chegar à R$ 72 milhões, ou a Série D do Brasileiro, com datas no segundo semestre.
A equipe, que já tinha vencido o jogo de ida por 2 a 1, voltou a triunfar sobre o Marília, desta vez por 3 a 2, assegurou o título da Copa Paulista e em 2021 vai disputar a Série D do Campeonato Brasileiro, retornando ao cenário nacional, o que não acontecia desde 2017, quando disputou a quarta divisão e a Copa do Brasil. A Lusa não levantava um troféu desde 2013, quando conquistou o Campeonato Paulista da Série A2 e retornou à elite estadual.
Na lista feita pelo mandatário no início do ano, somavam-se ao retorno do calendário nacional outros três objetivos. O regresso à elite do Campeonato Paulista, a elaboração de um estudo para a construção de uma Arena, no Canindé, e o avanço no acordo de dívidas trabalhistas, que deixaram o clube sem dinheiro e crédito nas últimas temporadas. Essas metas, contudo, não foram atingidas.
A Portuguesa se planejou para obter o acesso à Série A1 do Estadual. Dispensou a diretoria e a comissão técnica montada pela gestão anterior e trouxe novos reforços. "Saímos da última colocação e conseguimos lutar pelo acesso", relembra Castanheira. A equipe caiu nas quartas de final diante do XV de Piracicaba em um jogo polêmico. "Não fosse o drone e aqueles dois pênaltis, a história poderia ser outra", pontua o presidente, em referência ao objeto voador que fez o jogo parar por alguns minutos quando a Lusa vencia por 2 a 0. Acabou perdendo por 3 a 2.
No início deste ano, a gestão liderada por Castanheira tinha uma boa perspectiva de iniciar novo projeto e, ao mesmo tempo, resolver um imbróglio que se arrastava nos últimos anos. Eles queriam dar início ao plano de construção de uma Arena, no terreno do Canindé. Mas para que a construção fosse possível, a questão das dívidas trabalhistas teria de ser resolvida.
"A pandemia, infelizmente, parou com tudo. Perdemos praticamente todas as nossas fontes de receita e o projeto de viabilidade econômica da Arena foi suspenso. Em relação às dívidas trabalhistas, conseguimos dar sequência a alguns acordos", revela o presidente, que garante que a Portuguesa está pagando todos os seus débitos "religiosamente", apesar dos reveses econômicos. "Está tudo em ordem", assegura. Com certa estabilidade, o time pôde se concentrar mais em seus desafios dentro de campo.
FUTURO – O ano de 2021 mais uma vez dependerá da pandemia. Os planos são feitos com cautela. Certo é que o prêmio de R$ 250 mil pago pela Federação Paulista de Futebol (FPF) pelo título da Copa Paulista vai ajudar no planejamento. "Assim que os investidores restabelecerem os estudos que estavam sendo feitos e as pessoas envolvidas voltarem do isolamento, retomaremos o projeto da Arena", diz.
Castanheira também pretende ter êxito em um acordo das dívidas trabalhistas. Segundo o mandatário, as negociações foram retomadas entre outubro e novembro. A expectativa é que um acordo saia nos primeiros meses do ano. É mais um peso que ele tira das costas. Antes da pandemia e da paralisação do futebol, os clubes de São Paulo estavam propensos a ceder jogadores à Portuguesa, como forma de mantê-los em atividade.
O dirigente está esperançoso de que a Portuguesa volte brevemente para a Série A e reviva seus anos de glória. Em 1996, ela decidiu com o Grêmio o título do Campeonato Brasileiro. Perdeu para o time então comandado por Felipão. "Esse é o lugar dela. De onde ela nunca deveria ter saído". O primeiro passo já foi dado: projetar-se nacionalmente. "A Portuguesa é grande. Nosso objetivo a longo prazo é resgatar a dignidade do clube. Quero vê-la disputando ao lado de gigantes do futebol brasileiro novamente", diz o presidente.
Em cinco anos, Castanheira pretende ter uma Portuguesa profissionalizada, com o futebol separado do clube social e com o projeto da Arena finalizado. "Esse é meu ideal", afirma. "O que mais me doeu foi ver o desleixo com que as coisas na Portuguesa foram tratadas nos últimos 12 anos. Lutar por um título e chegar aonde chegamos, em meio à pandemia, é muito bom. Mas não poder ter a presença da torcida me dói muito. A torcida merecia estar do nosso lado."