Residentes do Hospital São Paulo decidem entrar em greve nesta terça

Os residentes de clínica médica do Hospital São Paulo devem entrar em greve nesta terça-feira, sob alegação de más condições de trabalho. Cerca de cem estudantes prometem paralisar as atividades por tempo indeterminado. Até o fim de semana, residentes de outras áreas, como cirúrgica, enfermagem e especialidade clínica, devem aderir ao movimento, totalizando cerca de 300 estudantes.

A reclamação dos residentes vem desde o ano passado. Por causa da pandemia, houve aumento de leitos e, inicialmente, também de verba pública e privada para o Hospital São Paulo (HSP). No 2º semestre, os recursos minguaram, mas não o volume de trabalho, com cerca de mil atendimentos por dia.

Ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o HSP é gerido por um conselho com representantes de várias entidades, incluindo a Unifesp, as Escolas Paulistas de Medicina e de Enfermagem e a SPDM, organização sem fins lucrativos de prestação de serviços em saúde. O orçamento de 2020 não foi revelado.

O HSP é um dos três principais centros médicos de alta complexidade da capital, ao lado do Hospital das Clínicas e da Santa Casa. A unidade, na zona sul, cobre área de mais de 5 milhões de habitantes.
Mesmo quando a curva de casos diminuiu na cidade, o hospital continuou com ocupação de leitos no limite. A unidade funciona com portas abertas e houve grande demanda de casos represados das outras doenças, de pacientes que evitaram buscar tratamento logo nas primeiras semanas da quarentena.

O Estadão conversou com dois residentes, que não quiseram se identificar. Eles disseram que, por causa do déficit no orçamento, fornecedores passaram a bloquear o repasse de medicamentos para o hospital e começaram a faltar itens básicos, de equipamentos de proteção a antibióticos.

"Na semana passada faltava soro glicosado para atender pacientes com hipoglicemia. Vi paciente recebendo açúcar na boca para tentar contornar a situação. Está faltando soro fisiológico, fundamental para diluir medicamento. Antibióticos básicos também", contou uma residente. "Todas as enfermarias e UTIs estão lotadas e muitos pacientes ficam no corredor. Paciente com covid circula por lá, tem barulho o tempo inteiro, luz o tempo inteiro", acrescentou a estudante.

Pacientes que ficam no corredor não estão com a covid-19. Mas, para chegar à sala de isolamento, aqueles que estão infectados com o coronavírus precisam passar pelo corredor, o que eleva o risco de transmissão, de acordo com os grevistas. Os residentes também relatam haver falta de alimentação básica na unidade.

Em nota, o Hospital São Paulo confirma a falta de insumos e promete solucionar o problema em até 48 horas. "Solicitamos aos médicos residentes a manutenção das suas atividades, visando à continuidade da assistência na instituição."

O Sindicato dos Médicos de São Paulo informou prestar assessoria aos residentes. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo foi informado na sexta sobre a greve. Por lei, o aviso tem que acontecer com 72 horas de antecedência.

Os residentes têm realizado reuniões frequentes com a diretoria do hospital desde novembro. Eles disseram receber a promessa de que os problemas seriam resolvidos em breve e até agora não houve solução. Agora a categoria vai trabalhar como em escala de final de semana ou feriado, com somente 30% da equipe.

O Hospital São Paulo ainda esclareceu que, com a pandemia, "a unidade tornou-se um hospital preferencialmente covid, atendendo a um grande volume de pacientes graves, que geraram maiores custos, que não estavam previstos".

Além disso, acrescentou o hospital, "o pronto-socorro da unidade permaneceu aberto à população, atendendo a um alto número de pacientes – em torno de 1.000 por dia, em média. Importante ressaltar que a unidade recebeu no primeiro semestre de 2020 incentivos fiscais, recursos públicos e doações, que permitiram o custeio das atividades, mas que, infelizmente, não se mantiveram no segundo semestre."

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