O mês de fevereiro vai acabar e desta vez os fãs de tênis não terão o Rio Open e suas estrelas em quadra. Mas a espera pela próxima edição do torneio, o maior da América do Sul, pode não se prolongar até 2022. A organização ainda tenta realizar o evento neste ano e julho é o mês mais cotado para sediar o ATP 500, novamente no Jockey Club Brasileiro, possivelmente com poucos torcedores.
Este é o plano apresentado por Luiz Procópio Carvalho, diretor da competição, em entrevista exclusiva ao <b>Estadão</b>. A tentativa é encaixar o Rio Open na semana seguinte a Wimbledon, que termina no dia 11 de julho. O calendário comporta nesta semana três torneios, dois deles no saibro. Há ainda mais competições na terra batida, mesmo piso do Rio Open, na sequência. "Tem uma gira de torneios de saibro depois de Wimbledon e poderíamos encaixar ali", explica Lui, como é mais conhecido.
Esta tentativa deve ser definida até o fim de março. Se efetivada, o desafio seguinte será decidir se o Rio Open 2021 terá presença de público, apesar dos altos números da covid-19 no Brasil. Lui se diz pouco inclinado a realizar um evento totalmente sem torcida, mas admite a preocupação com os riscos da pandemia.
Foram estes riscos que impediram a realização do torneio neste mês. E também atrapalharam os planos da organização no lançamento do "Rio Open Doc – 7 Anos de Conquistas", documentário que conta a história da competição. Sem poder lançar nos cinemas, a direção veicula a obra no Now, plataforma de streaming da Claro, principal patrocinadora do torneio.
Também nesta entrevista, Lui fala sobre os prejuízos que o Rio Open sofrerá caso não consiga realizar a edição 2021. Há possibilidade de alcançar R$ 1 milhão. Confira os principais trechos abaixo:
<b>O Rio Open ainda poderá ser realizado neste ano?</b>
A esperança é a última que morre. Temos nos desdobrado para achar um formato de como fazer o evento ainda neste ano. Temos conversas semanais com a ATP para conseguir uma data entre junho, julho e agosto. Acho que uma das datas que encaixa fica em julho. Essa decisão passa pelo Board da ATP e pelo Conselho dos Jogadores e dos torneios. Estamos costurando isso.
<b>Seria logo depois de Wimbledon?</b>
Sim, tem uma gira de torneios de saibro depois de Wimbledon e poderíamos encaixar ali. Não seria a melhor preparação para os jogadores, que iriam jogar (o Masters 1000 de) Cincinnati ou a Olimpíada logo em seguida. Mas, em se tratando de um ano de covid, estamos dispostos a fazer qualquer coisa para não deixar que o evento não aconteça.
<b>Se não tiver Olimpíada, o Rio Open poderá ter mais chances de se encaixar no calendário?</b> Sim, é uma possibilidade. Estamos correndo contra o tempo porque fazer o evento em julho, hipoteticamente, teríamos que decidir tudo até o começo de março. Se não, não conseguimos fechar tanto a burocracia da Lei de Incentivo quanto a contratação de fornecedores para fazer a montagem da quadra e da estrutura, que demora dois meses.
<b>Se houver Rio Open este ano ainda, haverá torcida nas arquibancadas?</b>
Vai depender da situação de como estiver o Brasil. Para ser super sincero, estamos um pouco inseguro sobre a situação do Brasil. Não sabemos se julho não será um pouco cedo demais. E nem é a questão de poder fazer ou não, porque no Brasil as coisas estão mais flexíveis do que na Europa. Mas é uma questão de responsabilidade, como evento, de não fazer nada que possa trazer risco à saúde das pessoas. E a gente tonou uma decisão muito acertada de não fazer em fevereiro, quando os números ainda estavam subindo, mas estavam relativamente mais baixos que agora.
<b>É possível então ter um torneio sem nenhum torcedor no Jockey Club?</b>
O que temos visto no circuito é que torneio sem torcida nenhuma, perde demais. Não perde só a parte financeira, mas perde a parte de atmosfera, perde como produto. Os próximos torneios, na América do Sul, não vão vender ingresso, mas vão ter 200, 300 pessoas na arquibancada para dar um pouquinho de atmosfera para os jogos. Quando se trata de Rio Open, eu sou um dos que não acreditam em evento sem público. É uma coisa pessoal. Não é pelo lado financeiro, é pelo lado emocional. Como produto, o torneio perde demais. Eu detestaria ver uma quadra central do Rio Open sem ninguém. Seria a imagem da derrota. Ainda sou dos que, se puder ter 30% de público, acho ok. Menos que isso acho que não vale a pena fazer o evento. O público fica com uma imagem ruim do seu produto. É a imagem que eu tenho do US Open do ano passado por causa da final. Os dois caras (Dominic Thiem e Alexander Zverev) quase morrendo de cãibra na quadra, quase sem energia nenhuma. Cadê o público para dar uma energia para eles? Parecia que estavam velando dois corpos, parecia um cemitério (risos). Achei horrível.
<b>Há alguma compensação ou ajuda financeira por parte da ATP caso o torneio não seja disputado neste ano?</b>
O Rio Open faz parte da IMM, empresa que tem uma estrutura financeira para conseguir possivelmente se sustentar sem organizar o campeonato por um ano. Temos essa sorte. Se fosse uma empresa menor, talvez não se sustentasse sem o evento por um ano. É o que pode acontecer com alguns eventos da ATP e WTA, que devem sair do calendário por dificuldades financeiras. Mesmo sem fazer o evento, temos uma série de taxas a serem pagas para a ATP. Obviamente, tem um custo fixo de equipe, que se mantém porque são contratadas da empresa. Existe um custo fixo que não tem como recuperar este ano. Já é um custo contabilizado como perda. No caso dos patrocinadores, todos decidiram que permanecer por mais um ano. Vamos nos ajustando. Conseguimos conter despesas.
<b>Qual é o tamanho do prejuízo se não tiver Rio Open neste ano?</b>
Difícil estimar. Pagamos duas taxas anuais para a ATP: a "tour fee" e a "marketing fee". são por volta de US$ 170 mil (cerca de R$ 914 mil, pelo câmbio atual) por ano. O que a ATP fez em 2020 para ajudar os torneios foi devolver o "marketing fee", algo entre US$ 50 mil e US$ 60 mil (R$ 269 mil e R$ 322 mil). Isso pode acontecer novamente em 2021 com os torneios cancelados. Ainda não sabemos. Mas, mesmo sem fazer o Rio Open, ainda temos uma parte da receita da mídia da ATP, o que ameniza os prejuízos. No final das contas, pode dar quase elas por elas.
<b>O documentário lançado neste mês é uma forma de compensar a ausência do torneio em fevereiro?</b>
Tem uma frase que falamos bastante: esporte é tradição. Quanto mais a gente conseguir deixar a memória viva, do (Rafael) Nadal, do (David) Ferrer, dos caras que já vieram ao Rio Open, melhor. Se não, a gente esquece que eles vieram. O fio condutor do documentário são os campeões de cada edição. Mostra um pouco da trajetória deles pela chave. É muito focado em dentro de quadra. É um produto legal para quem gosta de tênis para poder relembrar e reviver a história de sete anos de Rio Open até aqui. E é uma maneira de deixar o Rio Open vivo já que neste mês de fevereiro não teremos o torneio, infelizmente. Temos outras iniciativas como é o caso de um circuito de torneios juvenil e cursos de capacitação. Temos feito um calendário para poder manter a chama acesa.
<b>Se não houver torneio neste ano, muda alguma coisa no calendário de 2022?</b>
Não, em fevereiro de 2022 o Rio Open está garantido. Já até estamos trabalhando em novidades para o ano que vem. Vamos tentar surpreender, novamente no Jockey Club, no mesmo local e no mesmo piso.