O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, alertou ontem que a nova crise migratória somente será resolvida se a União Europeia apoiar as iniciativas militares da Turquia na Síria. A França acusou Erdogan de usar imigrantes para "chantagear" a UE. Na fronteira turca com o bloco, a tensão aumentou. Um confronto entre refugiados e a polícia grega deixou um morto – segundo os turcos.
Em discurso em Ancara, Erdogan disse que a Europa deve apoiar "as soluções políticas e humanitárias na Síria" feitas por ele, se deseja acabar com a crise migratória. O turco acusou os europeus, incluindo a Grécia, de "pisar" nos direitos humanos ao "atingir, afundar os barcos e até atirar" nos imigrantes que tentam chegar à UE a partir da Turquia, depois que o país abriu sua fronteira.
"Os gregos, que tentam de tudo, desde afogar os refugiados a matá-los a tiros, nunca deveriam se esquecer que talvez, algum dia, serão eles que necessitarão de piedade", afirmou Erdogan, em um encontro com deputados do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP).
Em Paris, o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, informou que a Europa "não cederá à chantagem" e garantiu que as fronteiras continuarão "fechadas" ao fluxo migratório. A Turquia rejeitou as acusações da França. "Nunca consideramos os refugiados como um meio de chantagem política", afirmou Ibrahim Kalin, porta-voz da presidência turca.
<b>Confrontos</b>
Enquanto não há acordo, a guerra de informações teve mais um capítulo ontem, com a divulgação pelos turcos que um imigrante teria sido morto por soldados da Grécia na fronteira – fato negado pelos gregos. "A Turquia fabrica notícias falsas. Fabricou mais uma hoje. Supostas pessoas feridas por tiros gregos. Desminto essas informações categoricamente", declarou o porta-voz do governo grego, Stelios Petsas.
Milhares de imigrantes – em sua maioria sírios, afegãos e iraquianos – estão reunidos na fronteira da Turquia com a Grécia desde que Erdogan anunciou, na semana passada, que não impediria mais a passagem deles em direção à Europa.
Os confrontos foram registrados por jornalistas, que flagraram ao menos um imigrante ferido na perna após ser atingido por um tiro que veio do lado grego. Os embates seguiram com refugiados lançando pedras contra forças de segurança da Grécia, que respondiam com bombas de gás lacrimogêneo.
Um veículo do Exército grego equipado com alto-falantes informou aos imigrantes em árabe e outras línguas que a fronteira estava fechada. Em um vídeo fornecido à France Presse pelo governo grego, a polícia turca é vista disparando bombas de gás contra a polícia grega no posto de fronteira.
<b>Imigrantes</b>
Os turcos têm em seu território pelo menos 4 milhões de refugiados, em sua maioria sírios, e querem evitar outro fluxo migratório vindo da Província de Idlib, na Síria, o último bastião rebelde e alvo de uma ofensiva do Exército sírio, com apoio de aviões russos, desde dezembro de 2019.
Cerca de 1 milhão de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas em razão dos ataques e os desabrigados ficaram presos na fronteira da Turquia com a Síria, no meio do fogo cruzado. A ONU teme que a onda de violência provoque mais uma catástrofe humanitária na região. (Com agências internacionais)