O vereador Senival Moura (PT) solicitou escolta da Polícia Militar à Câmara Municipal de São Paulo após a morte do empresário Adauto Soares Jorge, presidente do Consórcio Transunião, empresa de ônibus que opera na zona leste da capital paulista. O assassinato ocorreu na tarde de quarta-feira. Senival Moura e Jorge eram amigos há 30 anos.
Segundo o vereador disse, "houve a preocupação da Presidência quanto à minha integridade física". Moura atribui o pedido a essa preocupação. "Com base em tudo isso, tive que formalizar o pedido para cumprir os princípios legais." Os policiais que estão protegendo o vereador são do efetivo que já faz a segurança da Câmara.
A Presidência da Câmara informou ter recebido o pedido do parlamentar na quinta-feira, 5, e que já disponibilizou os PMs.
O assassinato de Jorge, de 52 anos, está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. Ele foi assassinado com dois tiros na cabeça no estacionamento de uma padaria, no bairro Lajeado, onde teria ido almoçar após ir ao banco. Policiais civis identificaram a placa do carro que levou o empresário até o local, intimaram testemunhas e recuperaram imagens de segurança do momento do assassinato.
As imagens mostram um rapaz de moletom azul e capuz surgir de trás do portão do estacionamento da padaria, atirar contra a cabeça do empresário e sair correndo. A polícia investiga se o crime foi uma execução por ordem de uma terceira pessoa.
Senival Moura e Jorge eram perueiros nos anos 1980, antes de o transporte clandestino ser regularizado na gestão Marta Suplicy (2000-2004). O empresário continuou no sistema, enquanto o colega virou político. Ele chegou a ser identificado incorretamente como "assessor" do vereador na primeira comunicação feita à PM sobre o crime.
Em 2012, o Ministério Público do Trabalho acusou Moura de contratar perueiros como "laranjas", declarando à Prefeitura serem donos de lotações que, na verdade, pertenceriam ao vereador. As ações trabalhistas terminaram em acordo e o parlamentar negou irregularidades.
Senival Moura é irmão do ex-deputado estadual Luiz Moura, expulso do PT em 2014 após ter sido flagrado pela Polícia Civil em uma reunião em que, segundo a investigação da época, havia membros da facção Primeiro Comando da Capital (PCC). O deputado negou qualquer ligação com a facção criminosa. Diversas investigações do Ministério Público de São Paulo apontaram ligações entre a organização criminosa e as lotações da cidade.
Em São Paulo, o transporte público é dividido por áreas, e cada uma delas é operada por apenas uma empresa. Ao menos outros três dirigentes ou operadores de lotações da região do crime já foram assassinados nos últimos cinco anos: em 2015, o conselheiro fiscal da Cooperativa Paulistana, Sérgio da Conceição Nobre Oliveira, foi morto na porta da garagem de ônibus em meio a discussões sobre a transformação da cooperativa em empresa. Em 2017, em novembro e dezembro, o diretor-proprietário da empresa Imperial Transportes, Thiago Celso Zanetti, e o proprietário de um dos ônibus, José Ordilei de Oliveira, foram executados, segundo a polícia. A Imperial havia perdido a última licitação do sistema, feita no ano passado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), para a Transunião, do empresário assassinado nesta semana.