A Polícia Federal saiu às ruas nesta quinta-feira, 11, para cumprir cinco mandados de prisão preventiva na Operação Última Milha – investigação sobre monitoramento ilegal de autoridades públicas e produção de notícias falsas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) do governo Jair Bolsonaro. A ofensiva mira auxiliares diretos do ex-chefe do órgão, Alexandre Ramagem (hoje deputado federal), além de influenciadores do gabinete do ódio.
Quatro alvos já foram presos:
– Marcelo Araújo Bormevet – agente da Polícia Federal desde 2005, está suspenso desde janeiro, por ordem do ministro Alexandre de Moraes na Operação Vigilância Aproximada (etapa anterior da Última Milha); Também é alvo de investigação da Controladoria Geral da União. Era chefe da Coordenação-geral de Credenciamento de Segurança e Análise de Segurança Corporativa da Abin e trabalhava com credenciamento de segurança e pesquisa para nomeações;
– Giancarlo Gomes Rodrigues – militar do Exército que fazia parte do Centro de Inteligência Nacional (CIN) da Abin; ele teria participado do monitoramento ilegal do advogado Roberto Bertholdo, próximo dos ex-deputados federais Rodrigo Maia e Joice Hasselmann;
– Richards Pozzer – artista gráfico indiciado na CPI da Covid por suposta disseminação de desinformação;
Mateus de Carvalho Spósito – ex-assessor da Coordenação-Geral de Conteúdo e Gestão de Canais da Secretaria de Comunicação Institucional, também investigado na CPI da Covid;
A PF ainda vasculha sete endereços de Brasília, Curitiba, Juiz de Fora, Salvador e São Paulo. As ordens foram expedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A ofensiva aberta nesta quinta, 11, consiste na quarta fase da Última Milha e apura ações do grupo contra membros dos três Poderes e jornalistas, com a "criação de perfis falsos e a divulgação de informações sabidamente falsas".
Ainda de acordo com a corporação, a organização criminosa "também acessou ilegalmente computadores, aparelhos de telefonia e infraestrutura de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes públicos".
A investigação apura supostos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.
A Operação Última Milha foi inicialmente aberta em 2023, quando a PF prendeu dois servidores da Abin – Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky – que usaram indevidamente o sistema de geolocalização de celulares do órgão para coerção. Na ocasião, a sede da Abin também foi alvo de buscas.
Segundo a PF, o grupo sob suspeita teria usado o sistema da Abin – um "software intrusivo na infraestrutura crítica de telefonia brasileira" – para rastrear celulares reiteradas vezes. Os crimes teriam sido praticados sob o governo Jair Bolsonaro. À época, o órgão era comandado por Alexandre Ramagem.
Em janeiro, a investigação se desdobrou na Operação Vigilância Aproximada, que mirou o deputado federal Alexandre Ramagem, o vereador Carlos Bolsonaro, policiais federais cedidos à Abin no governo Bolsonaro e ex-superintendentes regionais da agência.
À época, a PF disse acreditar que a estrutura da Abin foi usada ainda para produzir informações que teriam ajudado na defesa dos filhos de Bolsonaro em investigações criminais. Relatórios da agência teriam sido compartilhados para subsidiar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na investigação das "rachadinhas" e Jair Renan em inquéritos sobre tráfico de influência, estelionato e lavagem de dinheiro. O senador nega ter sido favorecido.
O deputado Alexandre Ramagem não é alvo da operação desta quinta, mas foi alvo do inquérito da Última Milha porque teria autorizado investigações paralelas, sem autorização judicial e sem indícios mínimos de materialidade que justificassem as apurações, segundo a PF. Algumas das apurações tentavam até confirmar fake news que circulavam em grupos bolsonaristas.
Os investigadores constataram que a "Abin paralela" tentou até produzir provas que relacionassem ministros do STF – Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes – e deputados opositores de Bolsonaro ao PPC. Ainda de acordo com a PF, a estrutura paralela da Abin foi politizada e promoveu "ações de inteligência" para atacar as urnas eletrônicas.