Estadão

‘Ser contra a corrupção não basta para Moro’, diz jurista defensor da Lava Jato

O jurista Modesto Carvalhosa, de 89 anos, é um defensor ardoroso da Lava Jato e da candidatura à Presidência do ex-juiz da operação e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, em 2022. Nesta entrevista, Carvalhosa diz que só a bandeira do combate à corrupção não será suficiente para impulsionar a eventual candidatura de Moro, que vai se filiar ao Podemos em ato marcado para a próxima quarta-feira, em Brasília. "O importante para um líder é ter um projeto para o País – e não pode ser só um projeto anticorrupção. Tem de ser um projeto para tirar da miséria metade do povo brasileiro e promover a regeneração dos costumes políticos."

<b>Como o sr. vê a possível candidatura do ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro à Presidência em 2022?
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Vejo de uma maneira muito positiva, entusiasmada, porque precisamos de lideranças naturais para se contrapor às candidaturas dos dois extremos, da direita e da esquerda. Como o Bolsonaro e o Lula, o Moro é uma liderança natural evidente. Não adianta querer fabricar líderes, ficar botando no jornal "procura-se um líder", para resolver a candidatura do centro político. Hoje, não vejo ninguém no Brasil com as características que o Moro tem para entrar na disputa. A candidatura dele não é só possível como necessária, para ser uma opção aos que estão aí.

<b>Considerando que Moro não tem experiência política e eleitoral, o sr. acredita que sua candidatura, se confirmada, vai decolar?
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Um candidato não precisa ter experiência política e eleitoral. O importante para um líder é ter um projeto para o País. Não pode ser só um projeto anticorrupção. Tem de ser um projeto para tirar da miséria metade do povo brasileiro e promover a regeneração dos costumes políticos. Se não fizermos uma reforma política, acabando com a reeleição, propondo o voto distrital puro, eliminando os fundos partidário e eleitoral e acabando com as sórdidas emendas parlamentares, fica difícil levar adiante qualquer projeto. Temos de fazer uma nova Constituição, para que o Estado, que está degenerando o País, não atrapalhe mais o desenvolvimento.

<b>A gente conhece as ideias de Moro nas áreas jurídica, de combate à corrupção e de segurança. Mas sabe pouco do que pensa sobre a economia. Isso não pode atrapalhar a candidatura?
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Realmente, ninguém conhece as ideias dele para a economia. Nem eu, que o acompanho de perto, conheço as suas ideias, se tem uma postura mais liberal ou mais estatizante. Ele vai ter de se posicionar. Ele terá de se preocupar com as pessoas e não só com a evolução do PIB. Como eu falei, terá de se preocupar em alimentar o povo e acabar com a fome. Para isso, será necessário promover uma grande reforma do Estado, que desperdiça recursos com a manutenção de uma casta política e de uma casta de servidores. Hoje, gastamos mais de R$ 1 trilhão por ano só com a folha de pagamento dos servidores e temos um serviço público muito deficiente.

<b>É possível haver uma união das forças de centro em torno de um candidato único?
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Acredito que, se as forças que não têm ligação com os extremos não se unirem em torno de um candidato consistente já no 1.º turno, será difícil elas irem para o 2.º turno. Claro que é improvável ter só um candidato além de Lula e Bolsonaro. Mas é preciso ter juízo para livrar o País dessas duas perspectivas desastrosas, a da continuidade do atual governo e a da volta do governo corrupto e estatizante do Lula.

<b>Como Moro não confirmou se será candidato à Presidência, é possível que se candidate ao Senado. Se isso ocorrer, quem deve receber o apoio dos lavajatistas?
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Moro é, sem dúvida, o melhor nome para congregar as forças anticorrupção do Brasil na eleição presidencial. Na ausência dele, entre os que se propõem a ser candidatos, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que deverá disputar as prévias do PSDB, me parece o nome mais viável, não pela sua luta contra a corrupção, mas pela sua conduta como governante. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também seria um candidato estupendo em defesa da moralidade pública, mas precisa de muito apoio para se viabilizar.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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