O cientista político Luiz Felipe d Avila se filiou ao Partido Novo e aceitou o desafio de colocar seu nome à disposição de um projeto presidencial em 2022. Ainda há trâmites internos a serem cumpridos e costuras políticas aguardando alinhavo, mas d Avila, em entrevista ao <i>Estadão</i>, já esboça seu plano de ação e sua visão de como deve ser o País pós-Jair Bolsonaro: liberal, justo socialmente, eficiente no serviço público e vigoroso no crescimento econômico. Apesar da opção pela pré-candidatura, d Avila entende que derrotar "o populismo" está acima de projetos pessoais e, por isso, diz estar disposto a abrir mão de uma eventual candidatura em prol de quem no próximo ano estiver melhor posicionado no centro.
<b>O sr. está disposto a ser candidato a presidente da República? </b>
Sim, quero ser um candidato que vá ajudar a unir o centro, não a dividir. Vamos ter que ter espírito público para, quando chegar em junho e julho, antes das convenções, o candidato que estiver liderando (entre os nomes de terceira via), receber apoio. Pretendo estar liderando, mas, se não estiver, teremos que ter espírito público para apoiar outro. Está claro que o candidato da terceira via só vai vencer se for um nome único. Se fragmentar, fica difícil. O que me anima é que o eleitor já escolheu quem ele não quer. Bolsonaro tem rejeição alta e metade dos brasileiros dizem que não querem nem Lula, nem Bolsonaro. O eleitor não sabe quem quer ainda, mas sabe quem não quer. Tem um caminho enorme para a terceira via se sedimentar.
<b>Qual será o principal desafio da terceira via?</b>
Os candidatos da terceira via carecem de uma narrativa de conexão com as pessoas. A política não faz sentido para quem passa dificuldade, para quem está desempregado, para quem fechou negócios. Há o desespero de um país atolado há dez anos, com recessão, volta da miséria Você vê fotos trágicas de pessoas pegando restos de carne, ossos, a política precisa falar com essas pessoas. O que pavimentou o radicalismo político foi o discurso tecnocrata e pouco afeito às pessoas. Temos que encontrar esse tom para se conectar com as pessoas. A terceira via ganha a eleição se fizer isso.
<b>A agenda liberal tem respostas não populistas para a crise social e econômica do Brasil?</b>
A frustração e o desencanto com a política é símbolo do fracasso do populismo. Houve uma desilusão. Tentamos o populismo de esquerda e o de direita, mas a vida das pessoas piorou. O que as pessoas querem é alguém para construir pontes, restabelecer o diálogo e a confiança no País. O populismo não vai fazer isso, vai acirrar diferenças. A agenda econômica liberal triunfou no mundo. Até países comunistas como a China entenderam que o capitalismo é fundamental para o crescimento econômico. A inserção no comércio global é a agenda. A locomotiva que puxa os vagões, inclusive o social, é a economia. Se a agenda liberal não estiver na mesa, será uma forma de ludibriar as pessoas. Se a agenda da locomotiva é a do crescimento econômico, da renda e do emprego, o segundo vagão é o da estabilidade política, o Estado eficiente, o serviço público de qualidade. Isso traz previsibilidade e confiança. Se não, é difícil convencer investidores que as regras são estáveis e confiáveis. Temos que trabalhar na melhoria do serviço público. Como mostrar que a reforma administrativa significa melhores servidores públicos? Essa ligação falta fazer, na narrativa. O terceiro é o vagão das políticas sociais. Elas não existem sem crescimento econômico. A prioridade é a agenda liberal. Se ela for ignorada, o Brasil está perdido.
<b>Como seriam essas políticas sociais?</b>
A política social não é monopólio da esquerda. Tem que estar na esquerda, na direita. Gastamos 25% do PIB com programas sociais. Se pegarmos 1% e focalizar nos mais pobres, você dobra a renda deles. Não fazemos isso por causa do clientelismo. Um programa social liberal tem que ter saída.
<b>Por que o sr. quer entrar neste ambiente político, tão cercado de desconfianças?</b>
A experiência pelos que estão no poder hoje é que eles perpetuaram o PCC: patrimonialismo, corporativismo e clientelismo. Estamos numa armadilha… O que me dá vontade é o enorme amadurecimento da sociedade civil. A sociedade civil mobilizada aprova medidas incríveis, como a reforma previdenciária, a ficha limpa…
<b>É possível estabelecer canais de diálogo entre diferentes segmentos da sociedade?</b>
É o que quero fazer na campanha. Quero ouvir o brasileiro. Você pega pessoas com interesses diversos e consegue criar diálogo. O diálogo significa a capacidade de genuinamente ouvir as pessoas. Assim pautaremos a narrativa da terceira via. O que mais falta no mundo radicalizado é escutar o outro. O Piauí, do governador Wellington Dias, do PT, fez um esforço extraordinário na melhoria fiscal. Uma maravilha. Por que não vou elogiar uma política do governador do PT se foi bem feita?
<b>Lula está à frente de Bolsonaro nas pesquisas. Por que não uma união em torno dele?</b>
Lula tem uma rejeição gigantesca. Parte da reconstrução do Brasil é uma reconstrução moral e ética. Lula padece desse atributo fundamental para reestruturar a confiança no Brasil. Vamos lembrar na campanha que Lula é o pai de esquemas que enfraqueceram instituições e abriram caminho para o bolsonarismo.
<b>Como fica a situação do Novo, dividido após a eleição de 2018?</b>
Se queremos fazer uma campanha para unir o País, temos primeiro que unir o partido.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>