Um em cada três cursos oferecidos em instituições privadas de ensino superior obteve desempenho insatisfatório no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2016. Eles receberam pontuações nos níveis 1 e 2, em uma escala que vai até 5. Na rede pública (municipal, estadual e federal), 14% registraram essa nota. Houve 1.033 cursos mal avaliados em instituições privadas, de um total de 3.261, e 145 instituições públicas com esse desempenho, de 1.039.
Os dados compõem os Indicadores de Qualidade de Educação Superior, que, nesta edição, analisaram 4.300 cursos de 18 áreas: Agronomia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Zootecnia, Agronegócio, Estética e Cosmética, Gestão Ambiental, Gestão Hospitalar e Radiologia. Na edição de 2016 participaram 195,7 mil alunos.
Só 266 cursos tiveram o conceito máximo (5) na avaliação, 165 públicos (3,8%) e 101 privados (2,3%). O exame é feito com base em dois componentes: uma avaliação geral que é aplicada a todos os estudantes, com dez perguntas, e uma prova de habilidades específicas. No geral, o melhor desempenho foi dos alunos de Medicina, com a nota 60,3 (de 100). O pior foi em Tecnologia em Estética e Cosmética, com 38,2. Já na prova específica, os resultados não são comparáveis.
Raça – Os dados do Enade também mostram que somente 3% dos estudantes que concluem um curso de Medicina no Brasil são pretos (classificação utilizada pelo IBGE para analisar raça ou cor). Mesmo com a ampliação de cotas nas universidades, a cor ainda é minoritária mesmo entre outros cursos, com 8,6% dos concluintes pretos.
Mesmo com compensações no acesso ao ensino superior – 20,4% dos alunos que fizeram a prova declararam ter recebido algum tipo de ação afirmativa ou inclusão social -, especialistas apontam a falta de políticas de permanência como motivo para a desistência dos alunos mais socialmente vulneráveis.
Levantamento feito pela plataforma IDados, a pedido do Estado, apontou que Medicina também foi o que registrou menor avanço nesse quesito. Em relação a 2010, o avanço na quantidade de alunos pretos foi de 0,7 ponto porcentual, enquanto houve queda de 4,4 pontos entre os brancos. Em Serviço Social, o avanço foi de 4,2 pontos porcentuais no mesmo período.
“Infelizmente, por falta de estrutura e políticas públicas sérias, o negro está em cursos com menor infraestrutura, mais baratos e onde os ricos não disputam”, diz o Frei David Santos, da ONG Educafro. “Se o Brasil quiser ter a mesma proporção de médicos negros e brancos, precisará, por 25 anos, só acolher alunos negros em todos os cursos de Medicina, tamanha a discrepância.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.