Estadão

120 horas sem luz: moradora de Cotia vai a mercado para carregar notebook. Fomos esquecidos

A interrupção de energia elétrica que atingiu partes da cidade de São Paulo e da região metropolitana na sexta-feira, 3, continua afetando moradores nesta quarta-feira, 8. São mais de 120 horas sem luz, cenário que tem forçado ajustes na rotina de quem segue sem ver o serviço completamente restabelecido. Na manhã desta quarta, a Enel estimava que 30 mil endereços seguiam sem energia, número que caiu para 11 mil no período da tarde.

Sem luz há quase cinco dias, a empreendedora do setor de vendas Tânia Mara Picolli, de 50 anos, que mora no bairro Recanto Verde, em Cotia, na região metropolitana de São Paulo, afirma que, além de alimentos estragados na geladeira e no freezer, também está enfrentando desafios para trabalhar.

"Sobre o meu trabalho, que é home office, todos os dias venho até um supermercado da região, que tem gerador, e disponibilizou para que eu recarregue meu celular e também laptop, nestes dias sem luz na minha casa, para conseguir manter o meu emprego. No setor de vendas, preciso me comunicar com pessoas do Brasil todo", afirma Tânia.

Segundo ela, alguns comércios, que funcionam com gerador, só estão aceitando pagamento em dinheiro. "Estamos comendo o que encontramos em locais ainda abertos no bairro. Na região, há mais de trezentas famílias que moram em chácaras passando por todo este transtorno. Há muitos fios partidos árvores penduradas nos fios ao longo da Rodovia Raposo Tavares. Fomos esquecidos", lamenta Tânia, que tem ligado todos os dias para a Enel e aberto ao menos cinco chamados diários.

Moradora do bairro Instituto de Previdência, no Butantã, na zona oeste da cidade de São Paulo, Carla Meireles Faria afirma que a energia elétrica foi restabelecida na segunda-feira, 6, desde então, a casa toda está com as tomadas dando choque.

"Os técnicos da Enel fizeram uma ligação mal feita no poste da minha residência e colocaram minha casa inteira em choque. Minhas filhas encostaram na tomada e tomaram choque. A minha máquina de lavar roupas queimou e as luzes ficam piscando. A própria atendente da Enel disse que isso é muito perigoso. Cancelei compromissos na terça-feira, 7, para que a equipe da concessionária retornasse, mas apesar de prometerem, ninguém apareceu", criticou a moradora.

Operado recentemente das varizes nas pernas, José Marcos Ramos, que mora Rua Dom Paulo Pedrosa, no bairro Real Parque, na zona sul da cidade, enfrentou transtornos diante de cinco dias praticamente sem energia. No momento em que falava com a reportagem, por volta das 13h30 desta quarta-feira, observou que seu condomínio estava com luz novamente.

"Minha cirurgia foi no dia 16 de outubro, mesmo assim, não teve jeito, precisava sair para os compromissos. Eu moro no sexto andar e tive que subir e descer escadas. Sempre devagar e com cuidado. Sorte ainda que tivemos onde tomar banho e recarregar os celulares, pois tenho um imóvel à venda em outro bairro, onde a energia a luz voltou na segunda-feira. É inadmissível esta demora para restabelecer a energia elétrica", afirma ele.

Ao longo do feriado prolongado de Finados, muitos moradores buscaram alternativas até mesmo para recarregar o aparelho de celular. A promotora de vendas Rafaele Benevides, 36 anos, mora no bairro Recanto Verde do Sul, em São Mateus, na zona leste de São Paulo. No domingo, 5, dia de realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ela saiu de casa com a prima e a sobrinha para procurar um local seguro.

"Fui até uma estação do Metrô. Eu iria ficar em Corinthians-Itaquera, na zona leste mesmo, com elas, onde até meu pai foi recarregar o celular dele, mas com o transporte gratuito no dia por causa da prova do Enem, decidimos ir até a estação Paulista para passear um pouco também", disse Rafaele.

Na manhã desta quarta-feira, a Enel Distribuição São Paulo disse que resta normalizar o fornecimento de energia para cerca de 30.200 clientes que foram impactados pelo vendaval na última sexta-feira, o que representa 1,43% do total de consumidores afetados. À tarde, o número informado era de 11 mil clientes ainda afetados pelo problema.

"A companhia reforça que está atuando com mais de 3 mil técnicos nas ruas e que têm trabalhado de forma incansável para reconstruir trechos inteiros da rede elétrica, garantindo a energia para todos", disse em nota.

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