Opinião

1,3 milhão de motivos

Existem pelo menos um milhão e trezentos mil motivos para que a Prefeitura de Guarulhos vete a realização de mais algum evento no grande galpão transformado, da noite para o dia, em um megatemplo que ganhou o simpático nome de Cidade Mundial. Porém, diferente do que se espera dos administradores públicos, que deveriam zelar pelos moradores de sua cidade, de forma até insana o Executivo municipal defende com unhas e dentes o irresponsável alvará de funcionamento concedido, não se sabe como, à Igreja Mundial do Poder de Deus.


Para piorar ainda mais a situação, a população de Guarulhos ainda tem fresquinho na memória todos os problemas causados à cidade no último dia 1º de janeiro quando o templo foi inaugurado. Os transtornos impediram milhares de pessoas de chegarem às suas casas em pleno domingo. Também atrapalhou a vida de passageiros do Aeroporto Internacional que não conseguiram chegar à tempo de seus vôos, bem como quem trabalha lá. Não bastassem as trapalhadas para os moradores locais, os centenas de milhares de fiéis correram sérios riscos de morte, enlatados que foram em um galpão sem as mínimas condições de receber um evento de tamanha magnitude.


E tudo isso, por que? Porque um líder religioso que se autointitula apóstolo faça suas pregações e – de quebra – arrecade muitos milhares de reais em nome de Deus. Dentro de uma lógica comercial, a igreja adquiriu uma grande área a peso de muito ouro e não pode sair perdendo. Assim, certamente, antes de formalizar a aquisição, deve ter se cercado de todo cuidado que  uma negociação dessas pede, como a garantia de que não teria problemas para obter o alvará de funcionamento.


Isso é revelado pelo “apóstolo” ao demonstrar sua gratidão ao prefeito Sebastião Almeida, durante a inauguração, quando recebeu embrulhado para presente a licença de funcionamento. Ou seja, a igreja está dentro da lei.


Porém, a municipalidade tinha a obrigação de ficar ao lado dos cidadãos – esses 1,3 milhão de habitantes que pagam seus impostos, que consomem aqui, que fazem a economia desta cidade girar. Não existe, não fossem os acordos prévios, um motivo sequer para contrariar os interesses de toda uma população. O evento desta sexta-feira, 13, por mais planos viários mirabolantes criados de última hora sob a pressão da sociedade, não deveria ocorrer.

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