Para muita gente, o 13º salário, o velho e bom “abono de natal” ou salário extra pago aos trabalhadores brasileiros entre novembro e dezembro, é a tábua de salvação para garantir um pouco de fôlego no final de ano. Nesta época, devido às festas e tradição de troca de presentes, aliadas às obrigações de início de ano (impostos, materiais escolares, entre outros), as contas não costumam fechar.
Desde que foi decretado em 1962, esse valor – igual a um salário formal – ajuda os trabalhadores brasileiros a se desafogarem um pouco, ajudando a quitar tanto dívidas acumuladas, como os valores dispendidos em impostos, rematrículas e até excesso de gastos de fim de ano com viagens, festas e presentes.
O Ótimo foi às ruas para saber como as pessoas pretendem gastar ou investir seu 13º, cuja primeira parcela começou a ser paga no último dia 20. O publicitário, Carlos Yuki e Lima, 26 anos, morador do Jardim Almeida Prado, diz que pretende guardar o bônus para planos de uma viagem futura.
Reinaldo Domingos, educador e terapeuta financeiro, presidente da DSOP Educação Financeira, Abefin e Editora DSOP, autor do livro Terapia Financeira, explica que o 13º salário é ideal para realizar uma “faxina” financeira no orçamento. O objetivo deste processo é diagnosticar a atual situação das contas e decidir o que fazer com o crédito a mais no banco.
Para quem usa o benefício para pagar dívidas, Reinaldo alerta: “Pagar dívida com o 13º salário é combater o efeito do problema financeiro. Com essa atitude, só estará mascarando o real e verdadeiro problema – a ausência de educação financeira em toda família. O endividamento é um problema que tem de ser resolvido com o próprio salário”. Isto significa que é necessária a redução dos gastos. “É muito provável que pessoas que estejam nessa situação não estejam respeitando o próprio padrão de vida”.
Hora de respirar
“Só sabe quanto pode gastar, sem ficar no vermelho, quem sabe exatamente quanto entra e quanto sai do bolso mensalmente”, afirma Reinaldo. Para quem está passando por esta situação, o educador financeiro alerta: “O primeiro passo é não ir às compras de final de ano compulsivamente. Primeiro, é necessário relacionar as despesas variáveis. Com estas simples ações, é possível identificar os gastos supérfluos e que possam ser eliminados”, diz.
Para quem está em uma situação mais confortável, ele sugere investimentos. Segundo Reginaldo, 50% do valor pode ser aplicado e os outros 50% podem ser usados para planejar a independência financeira. Nesta situação uma das opções seria investir em um plano de previdência privada.
E quem não recebe o abono?
Nem todos os trabalhadores brasileiros recebem o 13º salário. Empreendedores e autônomos não têm direito ao salário a mais no final de ano. Este é o caso da comerciante autônoma Regiane Correira Camelo, de 33 anos. “Tenho uma loja de material de construção e, como não conto com o beneficio, me apoio no aquecimento do comércio nesta época do ano para garantir um final de ano um pouco melhor”, explica.
O educador financeiro alerta que pessoas como Regiane têm um problema a mais. Segundo ele, apesar de ocorrer um crescimento no faturamento no comércio neste período do ano, há um aumento de gastos com funcionários, fornecedores e despesas em geral. “O fato do aumento da receita da pessoa jurídica ter aumentado não significa que a pessoa física pode retirar mais da empresa”. Reginaldo explica que o pro-labore (valor destino como “salário” aos donos de uma empresa) deve ser bem definido, a partir de regras claras e planejamento ao longo do ano.
Para Reginaldo, muitas pessoas passam pela mesma situação que Regiane. “O melhor é se programar ao longo de todo o ano e guardar parte do orçamento para que as despesas como IPVA, IPTU, matrículas, material escolar, presentes de fim de ano e outras que aparecem nessa época sejam supridas”, explica. Uma dica é guardar em uma caderneta de poupança ou em investimentos de curto prazo 10% da renda mensal.
Terceira idade cuida mais do salário extra
Benedicta Martha Lopes, 75 anos, aluna da Universidade Aberta da Terceira Idade UATI da Universidade de Guarulhos, diz que é muito controlada com seus gastos. Como pensionista, já recebeu antecipadamente a primeira parcela do 13º salário. “Com a primeira parcela eu quitei algumas dívidas, agora não devo nenhum centavo para ninguém”, garante.
Já com a segunda parcela que está por vir, Marta pretende comprar “lembrancinhas” de natal para os netos e trocar o box do banheiro e a pia de sua casa. Além disso, ela tem um destino certo para parte do dinheiro. “Quero gastar comigo também. Vou comprar um vestidinho branco e um sapato para passar o ano novo”.
A aposentada aproveita para dar uma receita. Ela não gasta além do que pode pagar. “Não esbanjo meu dinheiro, que não é muito, e assim consigo comprar alguma coisa que tenho vontade de comer e faço viagens quando tenho vontade”, explicou.
Dicas
• Faça escolhas que estejam dentro do seu padrão de vida
• Pesquise os melhores preços de presentes e itens da ceia e das festas
• Definam três sonhos prioritários que tenham diferentes prazos a serem realizados – curto (até um ano), médio (até dez anos) e longo (acima de dez anos).
• Peça desconto! Sempre.