Neste Dia dos Namorados, 12 de junho, uma das maiores paixões da cultura pop, o arqueólogo Indiana Jones, vai comemorar os 40 anos de sua estreia nos cinemas, ao mesmo tempo que ensaia uma volta às telas, com um quinto longa-metragem já em gestação. O novo filme da franquia iniciada em 12 de junho de 1981, com o lançamento de Os Caçadores da Arca Perdida nas telas americanas, já está sendo produzido nos estúdios Pinewood, na Inglaterra, sem Steven Spielberg na cadeira de diretor, mas ainda com Harrison Ford de chicote em punho.
É o cineasta James Mangold (de Logan e Ford vs. Ferrari) quem pilota o longa, comandando um elenco em que se destacam Mads Mikkelsen, Thomas Kretschmann, Shaunette Renee Wilson, Boyd Holbrook e Phoebe Waller-Bridge – a estrela da elogiada série Fleabag é considerada a principal aposta para substituir Ford e assumir o protagonismo da série no futuro. Ninguém sabe ainda qual artefato ele vai procurar agora (no primeiro longa era a arca que guardaria as tábuas com as inscrições dos 10 Mandamentos), mas é esperado um grande conjunto de perigos, que põe à prova todo o parque tecnológico da Disney, atual dona da grife Lucasfilm. A previsão de estreia para essa nova aventura do herói é 29 de julho de 2022.
Enquanto essa trama inédita do herói idealizado por George Lucas e Philip Kaufman (delineado em um roteiro de Lawrence Kasdan) começa a ser rodada em terras inglesas, sob absoluto sigilo, a Paramount Home Entertainment, ainda responsável pelas antigas peripécias do Dr. Jones, revive as peripécias do personagem relançando os quatro filmes em VoD. Totalizando uma bilheteria de US$ 1,9 bilhão, eles entram em 4K, na Apple TV, e em versão remasterizada no Google Play, Net Now e Sky.
"Admiro os filmes de ação dos anos 2000, como Jason Bourne, mas muitos exemplares do gênero são feitos com tantos cortes, com tanta rapidez, que mal se entende o que se passa na tela. A gente fez Os Caçadores da Arca Perdida, nos anos 1980, como um épico de aventura à moda antiga, com dublês, cenários reais, correria. É uma velha escola que ficou imortal", disse Harrison Ford ao <b>Estadão </b>no lançamento do quarto filme, O Reino da Caveira de Cristal, em Cannes, em 2008, quando a superprodução faturou US$ 790 milhões.
Para tornar a versão em 4k das façanhas de Indiana Jones um ímã de espectadores, a Paramount – que planeja lançar esse material também em um luxuoso box de bolachas digitais – caprichou nos mimos para os cinéfilos, com sete horas de conteúdo extra, incluindo um documentário, de 1981, sobre a confecção de Os Caçadores da Arca Perdida. Há um farto material documentando a criação do som e da música de John Williams, além de extras só sobre as atrizes que cruzaram a franquia, como Karen Allen. Mas quem esteve no set, como o ator Paul Freeman, que viveu Belloq, arqueólogo rival de Indiana, tem ajudado muito o estúdio a promover a efeméride de quatro décadas de um fenômeno cinematográfico que redesenhou a noção de blockbuster. Fenômeno que custou US$ 18 milhões, faturou US$ 389,9 milhões e saiu coroado da festa de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, em 1982, com cinco Oscars.
Freeman conversou com o <b>Estadão</b>, por telefone, para relembrar detalhes das filmagens com Spielberg, que rodou na Tunísia, na França, na Inglaterra e nos EUA. "Ninguém tinha ideia de que ia nascer algo tão grande daqueles sets, mas a gente tinha uma suspeita de que era algo que poderia durar para sempre no imaginário", lembra Freeman, um inglês de 78 anos que atua desde 1967, com cerca de 130 trabalhos no audiovisual, dos quais o mais lembrado é seu desempenho como o antagonista do Dr. Jones na caça pela Arca da Aliança, onde ficaram as tábuas sagradas dos 10 Mandamentos.
"Muito divertido, mas com um senso único de pureza e de inocência, Os Caçadores da Arca Perdida mistura uma série de gêneros, equilibrando-se entre eles. O que Spielberg e George Lucas fizeram foi revisitar os seriados e filmes de aventura que viam na infância, nos anos 1950, que era o que eu via também, quando jovem. Os filmes seguintes ficaram mais pesados, mas eles ajudaram o mundo a conhecer a arqueologia sob outro prisma. Conheci pessoas, em conferências de fãs, que se tornaram arqueólogas por conta de Indiana Jones", comenta.
Na trama que consolidou o nome de Spielberg como um Midas, após os estrondosos sucessos de Tubarão (1975) e de Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977) – arranhados, de leve, pelo fiasco de 1941: Uma Guerra Muito Louca (1979) -, existe um mal maior na busca pela arca: as tropas nazistas. O agente da Gestapo Toht (papel de Ronald Lacey), líder das hordas hitleristas, comandava as investigações em busca da relíquia do Velho Testamento. Mas era Belloq quem se aproveitava das ligações com Indiana e seus conhecimentos de História para garantir às forças do Eixo acesso ao baú divino – em troca de uma gorda recompensa.
"Belloq foi descrito no roteiro como uma pessoa de verdade, como um francês atraente e traiçoeiro. Esse realismo era a chave", disse Freeman, lembrando do método Spielberg de filmar. "Se Steven te escala é porque quer ver o que você sabe fazer, livremente. Se ele estiver feliz em estar com você, vai te deixar livre para criar porque o maior desejo dele, em relação a um ator, é a espontaneidade."
Depois de um enorme sucesso nos EUA, Os Caçadores da Arca Perdida só estreou no Brasil em 25 de dezembro de 1981. Só sete anos depois, o filme chegou à TV, inaugurando a Tela Quente, da Globo, com Júlio Cézar Barreiros (1952-2014) dublando Ford. Nas atuais versões, Guilherme Briggs é quem dubla Ford.
Indiana virou um ícone da cultura pop. Spielberg desenvolveu depois uma série de TV sobre a juventude do seu herói. Agregou o pai de Indy, e realizou o desejo de dirigir o ex-007 Sean Connery em A Última Cruzada. Incorporou o filho, e Shia Labeouf foi quem fez o papel n O Reino da Caveira de Cristal. Juntos, os quatro filmes renderam quase US$ 2 bilhões. Justamente o quarto, apesar das críticas, foi o que mais faturou – mais de US$ 790 milhões. São números alcançados nos cinemas, tem também a televisão, os games e os brinquedos associados ao personagem. Uma curiosidade que ninguém até hoje explorou. (Colaborou Luiz Carlos Merten)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>