A safra brasileira de grãos em 2021/22 deve somar 268,2 milhões de toneladas, de acordo com o quinto levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado nesta quinta-feira, 10. Se confirmado, o volume representa avanço de 5% em relação à safra passada, ou 12,79 milhões de toneladas. Em relação à estimativa anterior, de janeiro, porém, houve revisão para baixo (-5,69%), já que anteriormente a Conab previa colheita de 284,34 milhões de toneladas.
De acordo com o presidente da Conab, Guilherme Ribeiro, a atual safra "sofre impacto da forte estiagem, verificada no Sul do País e no centro-sul de Mato Grosso do Sul". Tal situação "justifica as perdas expressivas na produtividade estimada, sobretudo nas lavouras de soja e milho". Ribeiro destaca, ainda, que nem as chuvas mais regulares em janeiro em comparação com dezembro no Sul do País foram suficientes para alcançar a média pluviométrica esperada.
A produção de soja, consequentemente, deve sofrer uma quebra de 9% em 2021/22 em relação ao ciclo anterior, resultando em safra de 125,47 milhões de toneladas. Em relação à estimativa de janeiro, a Conab reduziu a projeção de colheita em 10,70% (anteriormente o País deveria colher 140,5 milhões de toneladas da oleaginosa em 2021/22). A estatal informa, ainda, que 16,8% das lavouras de soja já foram colhidas no País.
Conforme a Conab, o plantio da oleaginosa ocorreu dentro da janela ideal na maioria das regiões produtoras, o que gerou expectativas positivas. "Porém, a partir de novembro, o cenário mudou devido às condições climáticas adversas", ressaltou, em nota. "A influência do fenômeno La Niña interferiu fortemente nas precipitações registradas. Praticamente toda a Região Sul e parte de Mato Grosso do Sul sofreram restrição hídrica severa em novembro e dezembro, além de altas temperaturas, que provocaram drástica queda de produtividade nas áreas", reforça o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sergio De Zen.
Já para o milho, apesar do clima adverso para a primeira safra, a Conab espera uma recuperação na produção. Segundo a estimativa da estatal, deverão ser colhidos 112,34 milhões de toneladas, um incremento de 29% em relação a 2020/21. A primeira safra do grão deve permanecer em 24 milhões de toneladas, volume muito próximo ao colhido na temporada passada e também próximo aos 24,79 milhões de toneladas previstos pela Conab em janeiro.
Já para a segunda safra do cereal, é esperado um aumento 47% na colheita, podendo chegar a 86 milhões de toneladas. "Esse aumento é devido aos preços atrativos praticados pelo mercado e pelo plantio realizado na janela ideal da soja, principal cultura que antecede o milho", ressaltou De Zen. Segundo o Progresso de Safra, divulgado no último dia 7, já haviam sido semeados 22,4% da área prevista, com destaque para Mato Grosso, com porcentual de plantio que chega 42,6%.
A produção de feijão, por sua vez, deve se manter em torno de 3 milhões de toneladas. A primeira safra deve apresentar uma queda na colheita de 4,2%, podendo chegar a 935,5 mil toneladas. O resultado reflete a redução tanto de área cultivada quanto de produtividade, informou. Mas a expectativa é de que as próximas duas safras da leguminosa apresentem recuperação.
No caso do arroz, a Conab estima uma queda de produção em torno de 10%, e a colheita prevista está em 10,57 milhões de toneladas. De acordo com o levantamento, a questão climática no Brasil é apontada como um dos fatores determinantes para as expectativas da safra 2021/22.
"As lavouras, principalmente no Rio Grande do Sul, sofreram com altas temperaturas e isso prejudica a fase reprodutiva. Além disso, o tempo seco reduziu sensivelmente os níveis dos mananciais para irrigação, fazendo com que parte das lavouras seja manejada em regime de sequeiro ou sub-irrigada, o que reduziu o potencial produtivo das lavouras", explica o gerente de Acompanhamento de Safras da Companhia, Rafael Fogaça.
Outra importante cultura, o algodão, já está semeado em cerca de 79,6% da área prevista na safra 2021/22. A expectativa é de que a produção cresça próximo a 15%, chegando a 6,6 milhões de toneladas. Esse crescimento reflete não só o aumento da área cultivada, bem como das condições climáticas favoráveis à semeadura, germinação e desenvolvimento vegetativo, assim como a semeadura dentro da correta janela de plantio, comentou a Conab. "Apenas a pluma da fibra deve registrar uma produção de 2,71 milhões de toneladas."
<b>Exportações</b>
Neste levantamento, a Conab manteve a estimativa de exportações de algodão com crescimento de 2,5%, em relação ao último ano, esperando que seja alcançado um volume de 2,05 milhões de toneladas. Por outro lado, houve um corte de 10,3% nos embarques previstos para a soja em relação ao boletim divulgado em janeiro. Com a quebra da safra na Região Sul, a nova estimativa é que as exportações da oleaginosa atinjam 80 milhões de toneladas.
Já para o milho, a safra 2020/21, no acumulado de fevereiro a janeiro foram exportados 20,8 milhões de toneladas, enquanto as importações fecharam o ano-safra em 3 milhões de toneladas. Com isso, os estoques finais estimados para o ciclo passado resultou num total de 8,8 milhões de toneladas. Para a temporada 2021/22, diante do aumento da produção e de uma moeda doméstica desvalorizada, a Conab estima que 35 milhões de toneladas serão exportadas. Além disso, a Conab espera que o estoque final no atual ciclo seja de 10 milhões de toneladas, valor 14,5% superior ao estimado para a safra 2020/21. A recuperação ocorre em função da expectativa de uma boa segunda safra de milho no Brasil.
Quanto ao trigo, a previsão é que os estoques de passagem fechem o ano em 180 mil toneladas, volume superior ao que foi observado na safra 2020/21, porém com redução em relação ao último levantamento, quando se previa a finalização do ano safra em julho com 280 mil toneladas de estoques de passagem.
Em relação aos preços dos produtos nas principais praças observou-se, no mês de janeiro em comparação com dezembro, certa estabilidade nas cotações de arroz no Rio Grande do Sul, com ligeira queda de 0,1%. Preços estáveis também para o trigo no Paraná. Em contrapartida, o feijão preto no Estado paranaense e o feijão cores em São Paulo registraram alta de 20% nas cotações. Em Mato Grosso, alta para milho, soja e algodão em 10,5%, 7,6% e 6,7% respectivamente. A oleaginosa também apresentou preços mais elevados em 5,5% no Paraná.