A escritora francesa Annie Ernaux ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2022. O anúncio foi feito na manhã desta quinta-feira, 6, pela Academia Sueca. Nascida na França em 1940 e um dos principais nomes da literatura contemporânea, Annie Ernaux aborda em seus livros temas profundamente pessoais, que revolucionaram o gênero da autoficção, como relações familiares e de classe, violência e aborto.
Ao contrário de outros vencedores recentes do Nobel, que passaram a ser publicados no Brasil após a premiação, Annie Ernaux está presente nas livrarias brasileiras. Inaugurada em 2021, a editora Fósforo já publicou quatro livros da escritora (O Lugar, Os Anos, O Acontecimento e A Vergonha) e prepara mais um para a Festa Literária Internacional de Paraty (RJ): O Jovem. A mais recente vencedora do Nobel de Literatura é uma das convidadas do evento, em novembro. Veja aqui a programação da Flip 2022.
<b>Conheça os livros de Annie Ernaux publicados no Brasil
O Lugar</b>
Foi com este livro que Annie Ernaux ficou conhecida, em 1983, e ganhou, no ano seguinte, o prêmio Renaudot. O Lugar pode ser considerado um precursor do próprio gênero: "auto-sócio-biografia". No livro, ela parte da morte do pai para esmiuçar relações familiares e de classe, numa mistura entre história pessoal e sociologia que décadas mais tarde serviria de inspiração declarada a autores como Édouard Louis e Didier Eribon.
<b>Os Anos</b>
Nesta autobiografia impessoal, Annie Ernaux lança mão de um sujeito coletivo e indeterminado, que ocupa o lugar do eu para dar luz a um novo gênero literário, no qual recordações pessoais se mesclam à grande história. Aqui, acompanhamos seis décadas de acontecimentos, entre eles a Guerra da Argélia, a revolução dos costumes, o nascimento da sociedade de consumo, as principais eleições presidenciais francesas, a virada do milênio, o 11 de Setembro e as inovações tecnológicas. De 2008, este é considerado o principal livro da autora francesa.
<b>O Acontecimento</b>
Livro que virou filme, premiado em 2021 no Festival de Veneza, narra a experiência vivida pela escritora em 1963 quando ela, então uma estudante de 23 anos, engravida do namorado que acabara de conhecer. Sem poder contar com o apoio dele ou da própria família numa época em que o aborto era ilegal na França, ela vive praticamente sozinha o acontecimento que explora nesta obra – escrita com base em seus diários e em sua memória. A obra foi publicada originalmente em 2000.
<b>A Vergonha</b>
Lançado este mês no Brasil, A Vergonha mostra, mais uma vez, uma autora buscando compreender a si e o mundo que a cerca. Aqui, ela rememora um episódio de sua infância. "Meu pai tentou matar minha mãe num domingo de junho, no começo da tarde", ela escreve. Annie tinha 12 anos e experiência traumática resultou em um sentimento que a acompanharia para o resto da vida. No esforço de situar o incidente que encerra sua infância no contexto da história mundial, ela visita os arquivos da cidade de Rouen em busca das notícias de jornal de 1952, em uma cena que os leitores já iniciados em sua obra identificarão como embrionária de Os Anos.
<b>O Jovem (no prelo)</b>
Em poucas páginas, na primeira pessoa, Annie Ernaux relata uma relação vivida com um homem trinta anos mais novo que ela. Uma experiência que a fez voltar a ser, durante vários meses, a "menina escandalosa" da sua juventude. O livro, publicado em maio na França, será lançado aqui em novembro, quando a autora participa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).