Ao longo de seus 94 anos de vida, David Attenborough viajou o mundo atrás das maravilhas da natureza. Ele tem preferência em particular pelos mergulhos em recifes de corais. E adorou conhecer o Polo Norte e o Polo Sul, mas não faz questão de voltar. Porém, devido à pandemia, A Perfect Planet, seu mais recente trabalho, foi feito diretamente da sala de sua casa nos arredores de Londres. "A única coisa boa disso que estamos vivendo é que ficamos mais conscientes da importância do mundo natural", disse Attenborough em um evento virtual em novembro. "Eu mesmo nunca tinha notado tanto o canto dos pássaros. Percebemos nossa dependência emocional e intelectual do mundo natural como nunca tínhamos feito antes."
A Perfect Planet, nova série da BBC que ainda procura distribuição no Brasil, fala das forças que tornam a Terra um planeta perfeito, e tanto Attenborough quanto os produtores esperam que abra os olhos das pessoas sobre o que está acontecendo no mundo. "É extremamente atual", disse o produtor Alastair Fothergill. "Os incêndios na Austrália e na Califórnia e os furacões devastadores que têm atingido os Estados Unidos deixam claro que nosso planeta perfeito tem sido perturbado pela força dominante, que hoje são os seres humanos."
O programa está dividido em cinco episódios: vulcões, luz solar, clima, oceanos e seres humanos. Ao todo, foram quatro anos de filmagem, resultando em mais de 3 mil horas de imagens, registradas em 31 países dos seis continentes, incluindo o Brasil. Nesse período, a equipe passou por seis erupções vulcânicas.
São eles, os vulcões, os astros do primeiro episódio. "Os vulcões são destrutivos, mas a grande revelação é que nós não estaríamos aqui se não fossem eles", disse Huw Cordey. "Eles criaram a atmosfera respirável, os oceanos e 80% da área terrestre." E, por causa deles, existem alguns dos fenômenos mais impressionantes do globo, como o Lago Natron, na Tanzânia, formado por águas quase tão alcalinas quanto a amônia, onde vivem algas e micro-organismos que lhe dão cor vermelha. É ali que a maior parte dos flamingos-pequenos do mundo se reproduz.
Filmar na locação não foi fácil. Os pássaros se reproduzem a cada 5 a 8 anos e aparecem sem aviso, quando as águas baixam. Um produtor ficou de olho em imagens de satélite por dois anos para tentar prever quando eles viriam. Um aerobarco levou o cinegrafista Matt Aeberhard para o centro do lago, onde ele se escondeu em uma tenda para registrar as imagens, com os pés mergulhados na lama tóxica. "Os cristais cortam a pele da perna, formando feridas que só se curam depois de meses", contou ele. "O sal entra em tudo, nas roupas, no rosto, no cabelo. Eu parecia o fantasma do Sid Vicious." Mas valeu a pena. Naquele ano de 2019, nasceram 995 mil bebês flamingo. Aeberhard também percorreu 13 horas de estrada a partir de Porto Velho para chegar à fronteira com a Bolívia e registrar as tartarugas de rio, passando por extensas áreas desmatadas. "As imagens ficaram muito boas porque havia uma luz suave. E a razão para isso é que as queimadas na Amazônia estavam por toda parte, dava para sentir a fumaça no ar."
Foram muitas as situações perigosas enfrentadas pela equipe. A ilha Fernandina, nos Galápagos, é tão remota que mais pessoas já foram ao espaço do que até lá. O time teve oito horas de subida até o alto do vulcão, carregando água, comida e equipamentos, depois acampamento na borda seguida de uma descida íngreme e arriscada da encosta da cratera, onde iguanas colocam seus ovos na terra quente. A qualquer momento, poderia haver uma erupção ou avalanche.
Para Cordey, a série ajuda a ver a Terra de maneira global. "Tudo se encaixa perfeitamente. Não podemos pensar país a país, e sim como um todo. Durante muito tempo, tudo funcionou perfeitamente. Com a humanidade, isso mudou, especialmente nos últimos cem anos. Mas pode voltar a funcionar novamente. Essa série é uma celebração do nosso mundo." Como disse David Attenborough, os oceanos, a luz solar, o clima e os vulcões são forças poderosas que permitiram a vida aqui. "Eles fazem da Terra algo único, o planeta perfeito. Mas agora uma nova força dominante está mudando sua face: os humanos. Para preservar nosso planeta perfeito, temos de nos tornar uma força para o bem."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>