“Nós não precisamos de formadores de opinião. Nós somos a opinião pública!”. A frase foi dita nesta semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante comício ao lado de sua candidata Dilma Rousseff (PT). Talvez o melhor seja mesmo reconhecer que ele tem razão, depois da política desenfreada de ocupação da informação e da mídia exercida pelo governo.
Afinal para que serve a imprensa não comprometida? Para mostrar que o Planalto usa a TV pública ilegalmente na campanha de Dilma, tem blog sem autoria para disseminar o que quer e planta em rádios e jornais do interior peças de propaganda travestidas de noticiário.
Se não bastasse esse tipo de ação mais do que explícita, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras fazem campanha subliminar pró-Lula e pró-Dilma na TV, independente das limitações impostas pelo período eleitoral. A imprensa regional sucumbe, dominada que está pela publicidade oficial, imposta por interesses de prefeituras administradas pelo PT, como é o caso de Guarulhos.
Por tudo isso, não é exagero algum concordar que Lula represente a opinião pública. Não importa a barbaridade que diga, como vem sendo os constantes ataques à imprensa, a sua verdade se dissemina como verdade nacional.
Ninguém pode falar nada ou provar que há corrupção no entorno do Planalto e até dentro dele. Danem-se os fatos, o que vale é a versão de Lula. Ele e sua candidata dizem que não têm relação alguma com Erenice Guerra. E o povo engole. Afinal, o povo não precisa ter opinião. Vale a do chefe. Como ainda não detém o domínio completo, o que se dará a partir de um novo governo nas mãos do partido, a dupla parte para o ataque descarado contra um dos últimos pilares da democracia, a imprensa.
A ira de Lula é reflexo direto da grande repercussão que a mídia vem dando às denúncias sobre o tráfico de influências na Casa Civil. Se não houvesse a imprensa, tudo passaria batido e a dupla sairia imune. Mas tinha que existir esses formadores de opinião, que estão por trás dos jornais, revistas e TVs? A manipulação da informação seria mais fácil sem eles.
As declarações de Lula apenas confirmam o discurso que José Dirceu, o homem forte de um possível governo Dilma, que caiu da Casa Civil após denúncias na imprensa, fez na semana passada, quando afirmou que há excesso de liberdade de imprensa no país. Ou seja, não se tratam de declarações isoladas, mas sim de um plano de ação, que tem como objetivo maior a perpetuação no poder.
Baseados nos resultados das pesquisas eleitorais, que indicam até aqui vitória folgada de Dilma nas eleições de 3 de outubro, apesar das denúncias envolverem a candidata de Lula, todos esses ataques à democracia seriam dispensáveis. Porém, depois que tudo estiver consumado, ninguém poderá reclamar de que não sabia o que viria pela frente. O recado está dado. Com todas as letras. Só não enxerga quem não quer ver.