Opinião

Tragédia do realengo. Uma exceção


O ex-estudante de medicina Mateus da Costa Meira, 29, foi condenado a 120 anos e seis meses de reclusão por matar três pessoas, tentar matar outras quatro – que ficaram feridas – e colocar em risco a vida de outras 15 pessoas em uma sala de cinema do Morumbi Shopping, em São Paulo, em 1999. Na época, muita consternação como não poderia deixar de ocorrer. Autoridades e socieades se questionavam sobre o que levava um ser humano a praticar tal atrocidade. Medidas de segurança foram debatidas. O desarmamento se tornou foco das mais diferentes discussões.


Doze anos se passaram até que um jovem de 24 anos invade uma escola pública no Rio de Janeiro e sai matando crianças e adolescentes, com tiros na cabeça e tórax, numa demonstração de que ele sabia o que estava fazendo. Diferente de Mateus Meira que sobreviveu para ser condenado, Wellington Menezes de Oliveira acabou se matando ao ser atingido nas pernas por um policial militar, que evitou uma tragédia ainda maior.


Baseado em uma carta que teria sido deixada por Wellington, autoridades – ainda no calor dos fatos -apontaram que ele deveria ter um desvio de personalidade. Seria um fanático religioso, com um quadro de demência, que via nas crianças algo impuro. Seria um ato de estupidez. Para as famílias das vítimas fatais, uma tragédia, cujas marcas ficarão para sempre. Para a sociedade, muita indignação e perguntas muito difíceis de serem respondidas.


Por mais que se queira encontrar culpados e formas para evitar outros casos parecidos, esse massacre deve ser encarado como uma exceção à regra, algo que só ocorrerá novamente se diversos elementos, pouco prováveis, forem reúnidos em uma mente doente. Algo que não há como se prever e também como se precaver. Não se pode atribuir a uma fatalidade, porém a sociedade deve ter o equilíbrio necessário para saber lidar com esse tipo de acontecimento.


Desde que Mateus Meira saiu atirando dentro de uma sala de cinema, a cena não ocorreu novamente. As salas de exibição não se tornaram locais perigosos após aquela tragédia. E não é porque Wellington, aparentemente outro desequilibrado, promoveu um massacre contra crianças e adolescentes, que nossas escolas vão se tornar locais perigosos. A vida segue. Com grandes feridas, provavelmente incuráveis. Ficam as lágrimas e a dor.

Posso ajudar?