Opinião

FHC, Lula, Alckmin e o povão

Um dos temas de maior repercussão nesta semana no meio político foi um artigo de autoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), publicado pela revista “Interesse Nacional”. No texto, FHC defende que o PSDB desista de conquistar o “povão”. “Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT a influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão” […], falarão sozinhos.”


O texto caiu como uma bomba entre o tucanato. A maior parte das lideranças nacionais do partido, com exceção do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, saiu batendo no ex-presidente, descolando a citação de um contexto maior, já que parece ser loucura para um político com a experiência de FHC sugerir – mesmo que não seja essa a intenção – que se esqueça do chamado povão.


Na verdade, o ex-presidente, após a polêmica estabelecida, tentou consertar com novas declarações.  “Como se alguém que ganhou as eleições presidenciais duas vezes no primeiro turno (e contra Lula) fosse ingênuo a este ponto!”. Sobre a reação crítica dos aliados: “É de doer que políticos da oposição deixem de lado o conjunto dos argumentos e das propostas que fiz no artigo e, antes de o lerem, façam coro ao petismo, colocando-me como um insensato que despreza o voto das parcelas mais desfavorecidas da população. Fariam melhor se lessem com mais calma o que escrevi”.


Independentemente de quem está com a razão nessa discussão, vale o debate em torno da importância dos investimentos na área social, coisa que o PT do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, faz com maestria. Afinal, além de ser reeleito em 2006, ele conseguiu, justamente a partir de programas considerados eleitoreiros, mas que “enchem” a barriga do tal povão, eleger Dilma Roussef presidente da República no nao passado.


Neste sentido, cabe sim – não se sabe se é da forma como sugere FHC – à oposição reaprender a lidar com o poder. Talvez o PT já tenha achado a melhor receita, aquela que – na hora de contar os votos – renda resultados mais positivos. Porém, não se deve acreditar que será possível para o partido A ou B se manter no poder por várias gerações apenas com ações assistencialistas.


Porém, enquanto o tal “povão” entender que o bom governante é aquele que lhe garante o mínimo de dignidade seja pela concessão de uma cesta básica ou uma bolsa-família, nada irá mudar.

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