Com a aprovação do Congresso, o governo federal já pode criar mais uma empresa estatal, que servirá para gerir a implantação do trem bala entre São Paulo e Rio de Janeiro, partindo de Campinas, no interior paulista, passando pela Capital, Guarulhos, Vale do Paraíba, até o município do Rio de Janeiro. Para tanto, os cofres da União vão disponibilizar, como empréstimo aos grupos privados que devem tocar o projeto, a bagatela de R$ 20 bilhões.
Por ser dinheiro que poderia ter outras utilizações mais nobres, já que a implantação de um Trem de Alta Velocidade, apesar de ser coisa de primeiro mundo, não parece ser uma prioridade para um país carregado de problemas e escassos recursos públicos. Investimentos ou empréstimos subsidiados desta monta à iniciativa privada pode significar a doação do orçamento público para uns, em detrimento de outros. Ainda mais quando é evidente que o orçamento público é incapaz de atender a todos.
Neste sentido, vale à maior parte da população uma reflexão sobre a quem interessa ter o trem bala. Seria coerente colocar tanto dinheiro público em um empreendimento que beneficiará uma minoria de brasileiros? Nem para fazer bonito para os estrangeiros que virão ao país para a Copa de 2014 ou Olimpíadas de 2016 essa obra servirá, já que não ficará pronta a tempo, mesmo que esse não seja – nem de longe – um argumento defensável.
Mas seria muito mais coerente para qualquer governo que pense no país, em vez de despejar tanto dinheiro no trem bala, utilizar esses R$ 20 bilhões em um grande projeto de habitação popular, saneamento dos rios, prevenção de encostas das cidades e segurança, só para citar algumas prioridades verdadeiras. Para efeito de comparação: Com esse dinheiro seria possível construir cerca de 300.000 casas populares a R$ 40 mil cada, oferecendo moradia digna a mais de 1,2 milhão de pessoas.
Por tudo isso, a sociedade não pode simplesmente engolir goela abaixo essa obra megalomaníaca que se aventa, como marca da atual administração. Transportes por linhas férreas merecem sim investimentos. Mas há outras soluções bem mais próximas da realidade do país do que esse trem bala, que mais parece ser uma “Transamazônica” do século 21, uma obra que valerá para alguns se darem bem em detrimento do interesse de toda uma nação.