Nesta semana, durante palestra a empresários, o ex-presidente Lula disse com todas as letras que há um exagero da mídia na cobertura da política econômica, ao enfatizar demais a volta da inflação, algo que parecia erradicado no país. Para o grande líder brasileiro, a situação está sob controle e não há motivos para alarde. Diz que o assunto só interessa à oposição, meio que naquela lógica rídicula do “quanto pior melhor”. Na mesma linha, as principais autoridades da área econômica do Governo Federal procuram minimizar a alta generalizada de preços que se vive.
Talvez, tanto Lula como essas autoridades ainda estejam dormindo em berço esplêndido, o que acaba sendo um grande risco para o país. Ao negar o óbvio, deixam de agir para corrigir algumas distorções, os famosos desvios de rota. Desde a implantação do Plano Real, em 1994, o consumidor não sentia tanto as majorações de preços na hora de pagar as contas. Provavelmente, o ex-presidente não deve ir a um supermercado para constatar, por exemplo, que o preço de um litro de leite que há um ano girava em torno de R$ 1 hoje não sai por menos de R$ 2.
Há vários outros exemplos que atingem diretamente o bolso dos assalariados que, em contrapartida, em nome do controle da inflação, não vêem repassados em seus holerites essas distorções de mercado. Tanto é assim que o reajuste do salário mínimo ficou bem abaixo dos anseios até das centrais sindicais que ajudaram a eleger Dilma Roussef como presidente.
O descontrole de preços é flagrante e perigoso. O litro de gasolina na bomba está bem acima dos valores que o governo vende para países vizinhos, como a Argentina, que compra o produto por pouco mais de R$ 1 contra os quase R$ 3 pagos pelo consumidor.
A lógica dos carros bicombustíveis fez água, quando o valor do etanol subiu. Quando passaria a ser compensador abastecer com gasolina, seu preço também disparou deixando a conta alta com o consumidor, numa demonstração de que ele está desprotegido. Nessas horas nada melhor do que usar as velhas metáforas tão propagadas pelo ex-presidente, citando que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Neste caso, ao acusar a imprensa, Lula e os responsáveis pela equipe econômica prestam um desserviço ao país.