O jogo político, invariavelmente, reserva alguns momentos que surpreendem até mesmo os mais experientes analistas. O episódio que culminou no afastamento do Antonio Palocci da Casa Civil, o Ministério mais importante da República, causou mais estragos ao PT do que à adminsitração de Dilma Roussef. Enganou-se quem imaginava que partido e presidente não poderiam ser dissociados. Os estragos para o governo seriam inevitáveis e até maiores se a presidente demorasse mais para tomar uma atitude ou, ainda, se ela se rendesse aos conselhos que recebeu até mesmo de seu mentor, o ex-presidente Lula.
Ao assumir o controle da crise e substituir Palocci por alguém se seu time dentro do partido, Dilma – na medida do possível – demonstrou não estar tão ligada umbilicalmente a seu criador. Com a nomeação de Gleisi Hoffman para a Casa Civil e de Ideli Salvati para a Articulação Política, a presidente – quase seis meses após sua posse – impõe sua marca na Presidência, trazendo para si (e não para o partido) o comando político do governo. Trata-se de uma ação audaciosa. Se der certo, ela – mesmo indo contra tudo o que pregou ao longo da campanha que lhe garantiu a vitória no ano passado – demonstrará ao país que pode ser sim a mulher-forte construída ao longo dos últimos anos da gestão Lula.
Porém, se der errado, Dilma ficará literalmente entre a cruz e a espada. Ou se tornará refém – e de forma definitiva – do lulismo, tendo que voltar a dar um espaço ainda maior para os nomes do PT, que hoje cairam em certo descrédito junto à opinião pública, de tanto que defenderam Palocci. Ou ainda, pior, caminhará para uma verdadeira crise de governabilidade, inflada pelo aliado PMDB, que poderia aí sim garantir espaços ainda maiores junto ao Planalto.
Que ninguém imagine que tudo está resolvido. A República das Luluzinhas, nome dado ao comando político que agora tem três mulheres, incluindo Dilma, no centro do poder, como sempre ocorre quando elas são colocadas à prova, terá que provar – dia após dia – que segue no caminho certo. Qualquer escorregãozinho, por menor que seja, corre o risco de tomar uma dimensão gigantesca. Em pouco tempo, haverá respostas para todo esse movimento.