Opinião

Um erro que não justifica outros

Em uma análise jornalística, é fácil chegar à conclusão de que a revista Veja cometeu alguns erros na edição que foi às bancas no sábado passado, trazendo como reportagem de capa o ex-ministro José Dirceu (PT) como o poderoso chefão. A reportagem queria, a partir de suposições, dar a conotação de que Dirceu conspirava contra a presidente Dilma Roussef.


Seria uma bomba, caso a publicação trouxesse um fato pelo menos que pudesse comprovar tal denúncia. No fim das contas, a revista serviu mais para conturbar o clima em Brasília, jogando uns contra os outros tanto políticos da base como da oposição, já que foram flagrados importantes figuras de ambos os lados, indo conversar com o ex-ministro.


Desta forma, por mais que se convencione que houve um grave erro de um meio de comunicação, não é possível aceitar que o fato sirva de pano de fundo para se abrir – de novo – uma discussão que, apesar de não se admitir, servirá para a volta da censura no país. Políticos do PT apresentaram, na quinta-feira, documento em que defendem um marco regulatório para a imprensa sob a desculpa de que se trataria da “democratização dos meios de comunicação”. O texto, apresentado como proposta preliminar de resolução para ser votado no neste domingo, durante o 4° Congresso do PT, pede o fim da propriedade cruzada (quando um grupo detém concessões em várias plataformas) e uma legislação para a imprensa.


O texto, que está sendo condensado pelo presidente do partido, Rui Falcão, afirma que a concentração do domínio midiático “tolhe a democracia”, “silencia” e “marginaliza”, “criando um clima de imposição de uma versão única no país”. André Vargas, secretário de Comunicação do PT, afirma que a mídia precisa ter “alguma regulação”.


Segundo a Folha de S.Paulo desta sexta-feira, o texto condena “certo veículos que flertam com mecanismos ilegais”, em alusão indireta à Veja. Porém, segundo o Estado de S. Paulo, a presidente Dilma Rousseff reiterou o pedido para o Ministro de Comunicações, Paulo Bernardo, para que não permita nenhuma resolução sobre “regulação de conteúdo”, reforçando o primeiro discurso dela logo após vencer as eleições. 


Ou seja, existe uma dilema, entre a vontade da presidente e a tendência de seu partido. Espera-se que prevaleça a liberdade de imprensa, sem que se permita que o erro de uma revista seja usado para impor o início de uma censura do país.

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