Demorou apenas nove meses para a farsa montada no Rio de Janeiro, com o objetivo de melhorar a imagem da cidade para receber jogos da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, começasse a se desmanchar. Os confrontos registrados entre homens do exército e traficantes no Complexo do Alemão reforçam os argumentos já apontados neste mesmo espaço de que as ações realizadas no final do ano passado não passavam de grandes artifícios de marketing.
Nesse período, o morro carioca serviu de exemplo para mostrar ao mundo que todos os problemas haviam sido resolvidos. Porém, apesar da aparente calma, exibida incansavelmente pelas mais diferentes emissoras de televisão, em diferentes horários e públicos diversos, não passava de apenas uma situação passageira. Tudo bem que muita gente começou a viver melhor na região, mas faltava às autoridades dar uma resposta que não tinham.
Durante as ocupações, o número de traficantes e marginais presos foi bastante pequeno, perante a guerra sempre exibida no mesmo local. Durante os confrontos que culminaram com a ocupação, foi flagrante perceber que – de forma até deliberada – muitos conseguiram fugir para morros vizinhos, ainda não ocupados, numa demonstração de que a guerra não tinha sido vencida. Diferente disso, o tráfico apenas mudou de endereço e, aos poucos, foi retornando aos locais de origem. Prova disso são os confrontos deste início de semana.
Se as autoridades cariocas não agirem com rigidez, muito dificilmente os marginais serão vencidos. Essa história de afasta-los de suas bases apenas para enfraquecer seu poderio de ação não funciona. Os grupos são muito mais organizados do que podem parecer. E estão infiltrados em diversas instâncias do poder. Talvez, até por conta disso, não seja interessante exterminá-los.
Fora que o combate ao crime não se dá de maneira pontual. Sem uma macro política de segurança nacional, que iniba a entrada de drogas e armas em nossas fronteiras, qualquer ação pública diante das câmeras de televisão não passará de um grande espetáculo para aumentar a audiência de programas sensacionalistas no final de nossas tardes.