Os índices oficiais confirmam. Mas nada como uma ida ao supermercado ou à feira para perceber que os preços cobrados não param de subir. E não é culpa do dono do botequim da esquina ou do feirante. Há uma tendência de alta nos mais diversos produtos e serviços, gerando uma expectativa de inflação futura – algo que há quase duas décadas não se via no Brasil -, que acaba por contaminar todo o processo.
Na ata do Copom referente à última reunião que gerou muita polêmica e controvérsia a respeito da decisão do Banco Central de reduzir os juros em 0,5 ponto, uma das explicações aponta para a situação internacional que se deteriorou muito e deixou um quadro bastante incerto. Assim, não fazia sentido continuar com o movimento de elevação da taxa – algo que se tornou praxe – desde o início do governo Dilma. Porém, há um ponto que deixa dúvidas. Para o BC, estaria no fim o ciclo de elevação da inflação em 12 meses.
É praticamente certo que a inflação mensal vai subir por causa dos preços dos alimentos, como acontece todo ano nessa época, e o acumulado em 12 meses, que está em 7,23%, pode até cair um pouco. O problema é que no começo do ano que vem há o impacto do salário mínimo, que baterá nos preços dos serviços. O BC, de forma quase que inexplicável, não considera isso, o que pode demonstrar um grave erro de avaliação. Começam a contar com questões bem improváveis. Por exemplo, o preço do botijão de gás está subindo nos mais diferentes estados do país. Porém, os técnicos do BC apontam que o aumento será zero neste ano de 2011. Ou seja, há pressões inflacionárias subavaliadas.
A queda nas taxas de juros é algo bastante perseguido pelo setor produtivo. Mas pode funcionar como um tiro no pé em épocas de inflação crescente (e é isso que vivemos, queira ou não admitir a equipe econômica).
Teme-se apenas que – em um importante momento – os responsáveis pela política econômica queimem, de forma inadvertida, os poucos cartuchos que o país tem para enfrentar uma crise internacional, que pode ser bem maior do que se possa prever, como admitiu a própria presidente Dilma Roussef na semana passada.