Opinião

Ainda a trapalhada do IPI

Por mais que o governo federal argumente que aumentou, na noite para o dia, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros importados, como forma de defender a indústria nacional, a ação deve render problemas bem maiores ao Brasil, numa demonstração de que o tiro saiu literalmente pela culatra. O Japão deve entrar com uma representação na OMC (Organização Mundial do Comércio) por conta da medida, considerada uma grande barreira comercial imposta a outros países.


 


Em 15 de setembro, o governo federal anunciou a elevação de 30 pontos percentuais nas alíquotas de IPI para veículos que tenham menos de 65% de conteúdo nacional. Antes, o tributo variava de 7% a 25% e, com a medida, passou para 37% a 55%. Porém, as fábricas instaladas no país respondem por mais de 75% dos carros importados.  Ou seja, o reajuste pegou apenas aqueles que não produzem por aqui. Só que a medida representou um custo a mais para os consumidores, já que – em vez de incentivar a concorrência e baratear os carros nacionais – os veículos importados passaram a custar mais.


 


A empresa importadora da coreana Kia Motors anunciou que foi “obrigada” a reajustar os preços de dez modelos que vende atualmente no Brasil por causa do aumento de IPI. O acréscimo médio foi de 8,41%, mas uma das versões do Picanto, o modelo de entrada da marca, subiu 14,33%, de R$ 34.900 para R$ 39.900. Outras estão se readequando e tentando manter os preços praticados enquanto durarem os estoques de veículos já importados. A alemã Audi, por exemplo, que acaba de lançar o luxuso A6 por R$ 310 mil, avisa que apenas 50 modelos terão esse preço. Os próximos que chegarem custarão em torno de R$ 30 mil a mais. Essa relação de aumento valerá para todos e recairá sobre o consumidor.


 


Caso a OMC acate a denúncia do Japão, com quem o Brasil até aqui mantém boas relações de comércio, o país pode sofrer represálias que atrapalhem diretamente a indústria nacional, já que barreiras seriam impostas para a exportação de produtos brasileiros. Resumindo: ao aumentar o IPI, em vez de incentivar a produção por aqui, o governo federal pode estar atrapalhando ainda mais empresas que já mantém negócios de exportação. Seria muito mais inteligente e prudente que se estabelecesse redução de impostos para produtos brasileiros do que essa burra sobretaxação dos importados.

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