Opinião

Carta aberta a dom Luiz Bergonzini


Poderia apenas fazer uma ligação telefônica ao bispo de Guarulhos, dom Luiz Gonzaga Bergonzini, em vias de “pendurar” a batina já que ultrapassou a idade máxima para ocupar o cargo. Ou então pedir uma audiência para manifestar minhas impressão tão logo li o editorial publicado na última “Folha Diocesana” sob sua direção. Provavelmente nossa conversa ficaria entre quatro paredes e não seria pública. Porém, prefiro utilizar este espaço para contar uma breve história de minha ligação com a Igreja Católica e a alegria que senti ao ler seu artigo.


No auge de meus 20 anos, quando optei em entrar em uma faculdade de Comunicação para seguir minha vocação jornalística, outra opção que me perseguia era ingressar em um seminário para me tornar um padre. Tudo em função da formação cristã, seguindo os preceitos passados por meus pais, fervorosos católicos que – recentemente – tiveram a chance de, já por volta de seus 80 anos, ir a Roma e ver o papa. Fui coroinha, coordenador de grupo de jovens, catequista e tudo mais que tinha direito um jovem cristão praticante. Até letras para músicas em festivais de canção escrevia.


Era daqueles que ia a missa todo domingo, sempre engajado nos movimentos voluntários de nossa paróquia, como construção da igreja, coleta e distribuição de alimentos, visitas a doentes em hospitais, entre outras atividades que enchiam o coração da gente de paz.


Porém, os anos passaram. A universidade acabou por me afastar da igreja sobretudo pela abertura de uma visão bastante crítica em relação ao mundo. Nunca deixei de acreditar em Deus. Porém, me decepcionei um tanto com as religiões. Posturas pessoais de diversos padres e, principalmente, de muitos líderes levaram a esse distanciamento da igreja dos homens. Preferi viver numa relação direta com o Pai.


Tudo isso para dizer que, ao ler mais esse editorial de dom Luiz, pude finalmente encontrar em um líder da igreja católica aquilo que eu julgava necessário em pessoas com o poder de formar opinições. Não se trata exatamente da posição dele em relação à Dilma apesar de concordar com suas afirmações em boa parte. Mas principalmente pelo fato dele se posicionar.


Nesses 15 anos meus em Guarulhos, como editor de algumas publicações, sempre acompanhei essa vocação dele de ser um orientador de seu rebanho, algo que – infelizmente – falta a muitos líderes religiosos. Aliás, isso acaba deturpado, já que alguns usam desse poder para manobrar pessoas de bem em função de interesses pessoais e – até – financeiros.


Sei que dom Luiz foi injustiçado no ano passado, quando parte da mídia tentou massacrá-lo por ele se declarar contra a eleição da atual presidente. No editorial de agora, com fatos e argumentos, dom Luiz mostra que tinha razão no que havia escrito antes. Que suas posições não faziam parte de uma campanha difamatória para detonar uma e levantar outra candidatura.


Dom Luiz, prestes a se aposentar, poderia optar pelo esquecimento do tema. Preferir o fácil “deixa pra lá” tão comum em quem não tem coragem de enfrentar a verdade. Mas ele optou, mais uma vez, em dar a cara para bater. Uma pena que esses sejam os últimos dias de sua jornada como bispo. Vai fazer falta um líder que realmente possa – não conduzir – mas orientar seu rebanho. Que fique seu exemplo. Que outros tenham a dignidade de ter posições e se manifestar. Da minha parte, retomo – tardiamente, talvez – minha vida ligada à igreja.


Ernesto Zanon


Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo


No Twitter: @ZanonJr

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