Em hipótese alguma é possível aceitar a greve da Polícia Militar na Bahia. É inconcebível admitir que as forças de segurança, que devem garantir a paz e a ordem, estejam do outro lado, promovendo exatamente o contrário. Porém, desde a Constituição de 1988, as polícias estão engessadas. Os policiais ficam a mercê da boa vontade de seus patrões, no caso o Estado, que concedem reajustes salariais a seu bel prazer. Não a toa, a cada dia que passa, os contracheques desses funcionários públicos tornam-se cada vez mais vergonhosos.
Um policial mal pago acaba sendo a porta de entrada dele para o mundo da corrupção, aumentando as chances – das mais diferentes formas – de se vender cada vez mais por menos. Não são poucos os casos de policiais envolvidos com a marginalidade. Tudo isso contribui para denegrir a imagem dessa corporação, que deveria ter uma postura ilibada. Mas não é assim. Tanto que o exemplo da Bahia é bastante emblemático, já que se trata de um Estado governado pelo PT, partido que – na oposição – sempre se posicionou ao lado dos trabalhadores. O próprio ex-presidente Lula, pouco antes de vencer as eleições em 2002, se colocava junto aos grevistas em uma manifestação parecida com a de agora.
O que mudou? Os policiais, seus líderes ou a posição dos agora governantes? Com certeza, um pouco de tudo, mas contribui demais o fato do PT ter mudado de lado. Hoje, como vidraça, percebe que pode pagar caro pela incapacidade de seus govenros em evitar que se instalasse a greve da PM na Bahia. Houve negligência tanto das administrações federal e estadual ao não antecipar o diálogo com os grevistas.
Agora, cenas dantescas, com o confronto aberto entre as forças federais e as estaduais. Anos atrás, quando a PM paulista entrou em batalha contra policiais civis em greve, o Estado foi linchado por seus opositores. Como a disputa hoje envolve lados contrários, os discursos são a contradição explícita com aquilo que se disse no passado e como se age hoje.
Infelizmente, quem paga caro por esse triste e lamentável jogo partidário é a população. Hoje é a da Bahia. Ontem foi a do Ceará, anteontem a de São Paulo. Há grande tendência desse tipo de movimento pipocar pelo Brasil inteiro, por um simples motivo: os policiais nos mais diferentes pontos do país são muito mal pagos.