Fim de semana desses caminhava com meu filho Matheus, de 9 anos, por uma praia. Ele me pediu um sorvete. Paramos em um carrinho, escolhemos e continuamos em nosso rumo. Tempinho depois, o garoto carregava em uma das mãos o palito e o papel do picolé. Nem precisei falar nada, o menino estava a procura de uma barraquinha que tivesse um cesto de lixo para dispensar o material.
Vale frisar que Matheus não estava preocupado se havia um fiscal de olho em nós, pronto para flagrar qualquer deslize que poderia ser algo que muita gente faz na maior cara dura: jogar o lixo na areia. Não. Para meu orgulho, o pequeno Zanon já demonstra ser um cidadão. Revela que a boa educação que eu e a escola onde ele estuda passa vem sendo absorvida.
Esses pequenos detalhes servem para ilustrar alguns momentos interessantes. Neste caso, demonstra que não há necessidade de lei alguma para ser cidadão. Tal reflexão é válida no momento em que nossa Câmara Municipal nos brinda com a aprovação de mais um projeto de lei que vai acabar no lixo.
Por mais absurdo que possa ser, mas bastante aplaudido por muita gente, criaram uma lei que multará quem jogar lixo no chão. Seria cômico se não estivesse – mais uma vez – envolvido muito dinheiro público nisso tudo. Afinal, os nobres parlamentares são bem pagos para trabalharem em prol da população.
Pobre de um país que precisa obrigar as pessoas a fazerem o óbvio. Não jogar lixo no chão é uma questão de berço. É cidadania. É educação. Coisas que passam longe do vocabulário de muita gente, infelizmente. Lógico que parece ser politicamente correto defender esse tipo de causa. Mas passa da hora de nós sermos cidadãos de verdade. De mostrarmos que não adiantam discursos bonitinhos, cheios de frases feitas, mas vazios de conteúdos.
Fora que criou-se uma cultura neste país de que – para resolver qualquer coisa – é necessário penalizar as pessoas. Não faz direito, multa neles. Aí vêm falar que essa é a única língua que a população entende. Que só quando se mexe com o bolso é que se respeitam as regras. Isso é pequeno demais.
Assim como meu filho, eu aprendi a ser cidadão com meu pai. Diferente do velho Ernestão, porém, eu estudei em um colégio de bom padrão em
São Paulo. Ou seja, ele não aprendeu isso na escola. Foi na vida. Como qualquer pessoa de bem pode fazer.
Em tempo: como seria a abordagem de um fiscal a um sujeito que joga o lixo na rua? Será que ele vai anotar a placa do cidadão? Ou será flagrado por um radar fotográfico? Vamos trabalhar, gente!
Ernesto Zanon
Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo
No Twitter: @ZanonJr