Na noite desta quarta-feira, Willian Bonner, apresentador do Jornal Nacional, anunciou mais ou menos assim: “a Kawasaki enviou uma nota à imprensa informando sobre o uso inadequado do termo Jet Ski. Jet Ski é uma marca que pertence à empresa. O termo correto é moto aquática. Desta forma, a partir de hoje a Rede Globo passa a adotar esta nomenclatura”. Em seguida, entrou mais uma reportagem sobre acidentes com mortes de crianças, envolvendo as motos aquáticas. Desde o dia anterior, já circulavam nas redes sociais diversos comentários relacionados ao release enviado pela assessoria de imprensa da Kawasaki a toda imprensa. De cara, a comunicação caiu como uma bomba para o meio. Muitos jornalistas, para lá de experientes, se levantaram contra a empresa, apontando que isso não é hora para levantar tal polêmica. Fato. Está em discussão a irresponsabilidade de pais que liberam os equipamentos para seus filhos pilotarem. Fora isso, não é novidade para ninguém, basta ter algum dinheirinho para alugar em nossas praias e represas os Jets (ou melhor, as motos aquáticas) mesmo sem nunca ter chegado perto de uma. Eu mesmo, que morro de medo de subir numa moto asfáltica, já pilotei um desses brinquedinhos numa praia do litoral norte, numa viagem com um grupo de amigos. Foi fácil demais. Mas eu já tinha meus 30 anos e um tanto de juízo para saber o que poderia e o que não poderia ser feito, como – por exemplo – jamais fazer manobras próximo da areia. Mas o assunto aqui é a terminologia. Creio que a Kawasaki esteja certa em defender sua marca. Porém, o momento escolhido é que não foi o mais adequado. Quer dizer que se o aparelho utilizado pelo garoto de Bertioga fosse da Kawasaki não haveria problemas? A pequena Grazielly Almeida Lames, de apenas 3 anos, não teria morrido? Ora, o buraco é bem mais embaixo. Já trabalhei com assessoria de imprensa e sei que é necessário aproveitar ganchos, a partir de temas que circulam na mídia, para emplacar seus clientes. Mas deu para notar um exagero por parte do fabricante japonês neste episódio. Ainda mais que – por mais que eles detenham a marca Jet ski – não será do dia para a noite, nem mesmo com a adesão de Bonner, que a cultura do brasileiro vai mudar. Ou alguém acredita que o garotão endinheirado vai chegar para a mina sarada à beira do mar e jogar a cantada: “Que tal a gente dar uma voltinha em minha moto aquática que acabei de ganhar do papai?”. Talvez, ele receba como resposta: “Agora, não. Está na hora de eu tomar meu danoninho….” Ernesto Zanon Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo No Twitter: @ZanonJr