A velha máxima de que “a justiça tarda mas não falha” carrega na própria definição um grosseiro erro de interpretação. Se ela tarda, ela falha. Controverso? Sim. Mas real. Imagine-se numa situação que pode parecer improvável mas é real. Você está em um carro com mais três amigos voltando de uma balada já quando o dia amanhece. Morrendo de sono porque é dia da semana e nove horas seu patrão o espera pronto para mais um dia de batente. Sim, há um certo quê de irresponsabilidade nessa situação, tão comum entre nossos jovens. Mas atire a primeira pedra quem nunca foi direto da balada para uma aula importante ou para o trabalho. Nunca? Tem certeza? Parabéns!. Voltamos à situação inicial. Um carro da polícia manda vocês estacionarem para uma batida de rotina. “Mão na cabeça!. Documentos!”. Tudo em ordem. Seu automóvel tem um probleminha e uma multa é lavrada. Durante aqueles intermináveis cinco minutos da batida, o rádio da polícia comunica os homens da lei que houve uma tentativa de assalto nas imediações. Um carro, com as mesmas características que o seu, com quatro meliantes no interior, empreenderam fuga… Exatamente. Você está numa enrascada quase inimaginável que renderia um bom filme de ação. Mas é vida real. Para seu azar, os homens de farda não são exemplos de honestidade. E loucos para mostrar serviço, do nada, ao revistar seu automóvel – sem ninguém acompanhar –, “encontram” uma arma de plástico que você nunca viu mais gorda. Achou muito? Tem mais. As vítimas da tal tentativa de assalto chegam em outro carro da polícia. Depois de relutarem em reconhecer qualquer um dos quatro, com ajuda dos ilibados homens da lei, acabam por dizer que dois deles foram os autores do crime que não ocorreu. Encaminhados à delegacia, os quatro jovens – que já estavam perdendo o dia de trabalho – descobrem que são acusados de tentativa de assalto a mão armada, com reconhecimento das vítimas. Famílias acionadas, advogados a postos e dá-se início a um périplo que demonstra a ineficácia de uma Justiça que não funciona. Sem ter como provar a inocência, os jovens estão presos há exatos seis meses. Nem um juiz se dignou a olhar o processo com retidão para reparar a quantidade de incoerências que existem desde a prisão e elaboração do boletim de ocorrência. Nada de liberdade provisória concedida ou habeas corpus. No esperado dia do julgamento, as vítimas não aparecem. Um policial cai em contradições. E o que aconteceu? Nada. Os quatro voltam a suas celas a espera de uma nova data de julgamento, que não ocorrerá antes de 60 dias. A justiça tarda e falha, sim senhor. Ernesto Zanon Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo No Twitter: @ZanonJr