Diante da greve dos estudantes da Unifesp Guarulhos, reivindicando melhores condições de infraestrutura, impossível não voltar 20 e poucos anos e recordar os bons tempos de líder estudantil, quando me tornei presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no norte do Paraná.
Apesar dessas mais de duas décadas de distância, as reivindicações de agora são bem parecidas com aquilo que a de uma universidade pública e gratuita. Editorial publicado na quarta-feira pelo HOJE suscitou comentários no GuarulhosWeb, postados por estudantes e comunidade, além de e-mails enviados à redação sobre uma questão bastante interessante, que eu via no Paraná e agora assisto aqui em Guarulhos.
O jornal questionou a relação da universidade com o município. Londrina, uma cidade promissora, tinha uma ligação quase umbilical com a UEL. O principal hospital era o Universitário. A economia local girava em torno dos quase 15 mil estudantes que frequentavam mais de 40 cursos das mais diferentes áreas. Havia uma série de programas de extensão sempre voltados à comunidade, entre outros benefícios diretos proporcionados pela academia.
Um tema chamava a atenção da mídia local, que – vira e mexe – esbravejava. A maioria da comunidade acadêmica não era de Londrina. Assim como eu, paulistano, perto da metade dos estudantes não eram da cidade, nem tampouco do Paraná. Cansei de ouvir em programas nas emissoras de TV local:“Tá vendo esse Zanon… Ele é um forasteiro. Veio de São Paulo para roubar nossas lideranças. Abram os olhos, londrinenses… Eles vêm aqui usar nossa estrutura e depois vão embora…”
Lógico que esse tipo de comentário, totalmente bairrista, pegava muito mal não só na comunidade acadêmica mas também entre a população, que sabia da importância da UEL para Londrina, assim como dos estudantes de fora que iam para lá, ativavam a economia, movimentavam o mercado imobiliário, além de muitos se fixarem e constituírem famílias por lá. Aliás, tenho muitos amigos que vivem em Londrina até hoje e não saem de lá por nada neste mundo.
Em um paralelo rápido, do outro lado do balcão, de forma alguma posso condenar a vinda de estudantes de fora de Guarulhos para nossa Unifesp. Mas ouso questionar. O que a universidade federal acrescenta hoje para a cidade e para seus moradores? Pelo que dá para perceber, quase nada.
De forma alguma, desejo ser bairrista. Apenas entendo que, da forma como foi concebida, sem a participação da sociedade local, hoje a Unifesp é um corpo estranho. Precisa mudar isso. Melhorar sua estrutura sim. Mas, acima de tudo, entrar na cidade.
Ernesto Zanon
Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo
No Twitter: @ZanonJr