A derrocada do senador Demóstenes Torres, agora sem partido, depois de se desfiliar do DEM para não ser expulso, foi um golpe para a Oposição que tinha no parlamentar um expoente na defesa da ética na política. Coincidentemente, o escândalo da ligação com Carlinhos Cachoeira, um dos maiores contraventores do país, vem à tona na véspera do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal dos envolvidos no Mensalão, o caso mais negativo do primeiro mandato do governo Lula, que derrubou o todo-poderoso José Dirceu.
Para os mensaleiros, o enfraquecimento da oposição pode fortalecê-los no tribunal, nivelando por baixo os desmandos dos mandatários brasileiros. Um político que fazia o papel de ético se revela corrupto. Assim, fica enfraquecida as críticas oposicionistas à corrupção no governo. Isso em tese, porque na prática, tanto os mensaleiros como Demóstenes têm que pagar por seus desvios de conduta. As circunstâncias que estão levando o senador para a cassação de seu mandato podem até ser consideradas tortas, mas as razões são corretas.
Já os mensaleiros agora querem usar a tese de que o bicheiro Carlinhos Cachoeira armou a gravação que provocou a ira do então deputado federal Roberto Jefferson, originando sua denúncia sobre o mensalão. Tentam – em vão – desviar o foco As denúncias – de forma alguma – poderão ser enfraquecidas, em especial contra o ex-ministro José Dirceu, acusado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de ser o chefe da quadrilha.
Circula ainda uma versão, para tentar misturar alhos com bugalhos. O senador goiano teria pleiteado ser nomeado secretário nacional de Justiça e foi vetado pelo então todo-poderoso chefe da Casa Civil José Dirceu. A represália teria como objetivo criar um problema para o PTB, que indicara o diretor dos Correios, e provocar uma crise na base aliada. O fato é que, sentindo-se traído por Dirceu, o então deputado Roberto Jefferson disparou sua metralhadora giratória, revelando o maior escândalo de corrupção política registrado no país nos anos recentes. Por tudo isso e um pouco mais, impera que se faça justiça. Tanto em relação a Demóstenes como aos mensaleiros. Afinal, todos parecem afundar em barcos bastante parecidos.