Nunca esqueço, 20 anos atrás, quando completei meus 25 de vida e morava sozinho, em Marília, no interior de São Paulo, onde engatinhava na profissão em meu primeiro emprego num jornal. Era o Diário, dirigido pelo amigo e hoje irmão José Ursílio, um exemplo de jornalista, que tem a dignidade e respeito ao ser humano em primeiro lugar. Na época, além de repórter, assinava uma coluna semanal no jornal, intitulada “Crônica e fotografia”. Era algo bastante simples. Em cima de uma imagem qualquer, escrevia sentimentos. Com uma marca que chegou a me acompanhar em meus textos. Frases curtas e pontos. Quase sem vírgulas. Era um estilo. Para comemorar meus primeiros 25 anos, lembro ter escrito – ainda na máquina de datilografia em laudas de papel – um pequeno texto que fazia menções seguidas ao termo “quarto”. Era uma referência direta ao quarto de século. Mas falava de um quarto vazio. Um quarto ocupado por um ser numa cidade praticamente desconhecida e cheia de mistérios. Aliás, meu quarto era bastante interessante. Naquela época, solteiro e vindo de quatro anos de vida universitária morando numa república, em Londrina, não era um exemplo de ordem. Ou melhor, era o oposto da organização em todos os sentidos. José Ursílio, com quem fui dividir junto a outro jornalista uma casa, até hoje, é a organização em pessoa. Tudo arrumadinho, guarda-roupa com camisas separadas por cores, lugar para sapatos, outro para tênis e assim por diante. No meu quarto, nem guarda-roupas havia. Aliás, nem cama. Era um colchão no chão, uma arara onde se penduravam as roupas usadas e umas duas ou três malas num canto com o que a arrumadeira tinha passado. Nem preciso dizer que José queria morrer toda vez que a porta do meu espaço era aberta. De tão incomodado, ele foi a uma loja e mandou entregar em casa um jogo completo de quarto, com direito a cama e guarda-roupas com três portas, cheio de gavetas etc e tal. Acho que foi presente de aniversário. De grego, é verdade!!! Confesso que não adiantou muito. Não demorou para que a bagunça – que antes ficava jogada pelo quarto – se transferisse para dentro daquelas portas e gavetas que mal fechavam. Hoje tudo isso é motivo de recordação e piada todas vezes que reencontramos gente daquele período. Nesta segunda-feira, ao completar 45 anos, muitas casas e redações depois, melhorei demais. Creio que o casamento com Simone fez um bem danado. Mas vira e mexe ela vem atrás de mim recolhendo peças que deixo pela casa e dando duras por ainda eu não ser um bom exemplo, em organização, para o Matheus, nosso bebê de 10 aninhos, numa prova que o tempo passa. Os 45 vêm chegando. Nenhuma referência ao quarto de século. Mas dá para perceber que o meio chega a passos largos. A experiência também. A responsabilidade, idem. Talvez com um pouco de insistência, a organização – uma marca daqueles que obtém sucesso em suas vidas – passa a fazer parte dos próximos anos. Talvez essa seja a determinação do novo período que se inicia. Em homenagem a todos aqueles que fizeram parte dos 45 anos que já se foram. Ernesto Zanon Jornalista, diretor de Redaçãovdo Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo No Twitter: @ZanonJr