Variedades

Obra do cinema nacional completa 45 anos de sua produção

O enredo, ainda bem atual, mostra a neurose do cidadão urbano com o crescimento assustador da cidade

Não foi por acaso que São Paulo S/A (Sociedade Anônima), de 1965, do diretor Luís Sérgio Preston, foi escolhido pelos críticos brasileiros e mundiais como um dos melhores filmes da história do cinema. O enredo, ainda bem atual, mostra a neurose do cidadão urbano com o crescimento assustador da cidade.

Carlos (Valmor Chagas) é uma espécie de anti-herói nacional, jovem e ambicioso, que consegue um emprego na Volkwagen. Em sua ganância pelo sucesso, alia-se a Arturo – magistralmente interpretado por Otelo Zelloni -, um empresário inescrupuloso, que fornece peças defeituosas e sem qualidade à multinacional.

Mas a farsa é descoberta e Carlos é demitido, sendo forçado a ir trabalhar na fábrica de Arturo. E, é justamente a partir daí que o personagem central começa a sentir seu vazio interior. Carlos não consegue assimilar as transformações da sociedade e da vida das pessoas decorrentes do progresso e, muito menos, se idealizar no papel de um cidadão empenhado em suas funções sociais; um emprego, um lar, uma família, e acaba mergulhando em uma profunda crise existencial.

Na história, Carlos não tem nenhum parente, sua única família foi a que idealizou junto à Eva Wilma, com quem se casa no filme e tem um filho. Talvez, persista aí o seu estranho comportamento até o ápice da loucura, a incomunicabilidade em decorrência da solidão. A emotividade em detrimento do concretismo.

Um aspecto interessante também é poder ver uma São Paulo em transformação após o golpe de 64, dando espaços a instalações das fábricas de veículos multinacionais na região de São Bernardo do Campo. Ver alguns pontos pitorescos da cidade, quase irreconhecíveis atualmente, descaracterizados pelo progresso que o filme retrata tão bem. Inclusive, o nome São Paulo S/A não poderia ser mais propício.

É com estes elementos em mãos e também com um excelente trabalho do fotógrafo argentino Ricardo Aronovick, que o diretor fez de São Paulo S/A sua obra prima e um dos melhores filmes de todos os tempos do cinema nacional.

À época, alguns críticos compararam o filme a "Deus e o Diabo na Terra do Sol", Até mesmo se referindo a Person como Glauber Rocha do Asfalto. Glauber é o principal nome do movimento conhecido como Cinema Novo, ao lado de Nelson Pereira dos Santos. Mas isto talvez foi só uma precipitação pela temática da obra do autor em expor os problemas sociais e os conflitos internos da personalidade humana. E também há um aspecto que vai ao encontro da ótica "cinemanovista" o uso de atores profissionais.

Person não fez parte do Cinema Novo, mas o filme é um genuíno cinema de autor, pois foi o próprio Person que o roteirizou e dirigiu. É claro que existem suas imperfeições, afinal de contas, foi o primeiro trabalho do diretor, mas o talento já estava implícito em sua obra e o cinema paulista genuinamente representado.

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