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Leitura – Tragédia adolescente na guerra civil de Serra Leoa

shmael Beah narra sua história como menino-soldado

A guerra por si só já causa grandes feridas, nem sempre físicas, mas muitas delas na alma daqueles que assistem passivamente as atitudes dos agressores e, por vezes, tornam-se agredidos. Mas há casos piores.

A guerra civil de Serra Leoa, país localizado na costa ocidental do continente africano, não trata-se de uma guerra comum. Ishmael Beah foi uma de suas vítimas. Mas ele não morreu. Com apenas 12 anos de idade, ele foi uma das trezentas mil crianças-soldado obrigadas a lutar pela sobrevivência.

Não lhe restava opção: aceitava pegar em armas e, instintivamente ver o ódio e a falta de compaixão ser encravada em seu coração, ou sobreviveria em fuga até que fosse pego pelo exército dos jovens de sua idade.

Ishmael perdeu sua família na guerra que ele não viu nascer. No exército guerrilheiro, não tinha objetivos, não sabia por qual motivo lutava, só sabia que sua vida tinha que ser preservada. Fã de literatura e da cultura envolvente do hip-hop, teve que abandonar suas escolhas em prol de mais alguns minutos de vida e um prato de comida.

Ishmael matava por obrigação, mas a cada morte que causava, sentia que um pedaço de si morria. Foi perdendo o amor, não tinha mais dó de suas vítimas. Como uma lavagem cerebral, agora só pensava na morte, na guerra, no sofrimento, motivado pelo entorpecente da cocaína e da maconha, misturados ao cheiro da pólvora.

O jovem adolescente que sorria e se divertia agora era uma máquina de ódio. Até que o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância, mais conhecida pela sigla Unicef cruzou o caminho dele após dois anos de atuação na guerra.

Antes que tivesse sua vida dizimada, que se visse mutilado fisicamente – pois, internamente, a ferida já era gigante -, teve a sorte de ser escolhido pela Unicef para reabilitação. Cego pelo ódio, não quis aceitar, mas acabou desistindo de lutar contra si próprio novamente.

Dali foi ajudado pelos membros da Unicef e fugiu para o país vizinho, Guiné, onde começou o árduo processo de recuperação. Mas nunca se deu por completamente recuperado. Ainda convive com amargas lembranças, transformadas neste brilhante livro.

Nas palestras ministradas por todo o mundo, Ishmael resume os tristes e sofridos relatos de muitas crianças-soldados que não tiveram a mesma sorte de Ishmael.

Uma lição de vida, persistência, resistência e esperança.

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