Seria o Amor uma mera invenção do homem? Mas o que representa esse sentimento além dos valores atribuídos e incorporados pela sociedade? Esses são os temas que entrelaçam uma história aparentemente simples, mas que questiona um dos principais sentimentos humanos.
Em O Último Tango em Paris, o diretor Bertolucci revela o Amor e seus dramas, sem rótulos, o Amor incondicional, com suas dores e a eterna incompreensão desse sentimento tão real e ao mesmo tempo tão abstrato.
Marlon Brando interpreta Paul, um americano de meia-idade que vê sua vida ruir com o suicídio da mulher. Ao caminhar pelas ruas de Paris encontra uma jovem parisiense (Maria Schneider), a qual terá viverá uma paixão imensa por três dias.
A vida dos personagens principais (Jeanne e Paul) se realiza num quarto sem mobília. Sem se conhecerem, envolvem-se intensamente e iniciam uma verdadeira reconciliação de si mesmos por meio do sexo, de forma mais instintiva possível. Ali, sem estipular regras, sem estabelecer qualquer contato com o mundo lá fora, desnudam a si e ao mundo. Constroem um mundo distante dos padrões sociais, onde impera os sentidos e desconstroem-se, reiventam-se na vida.
Para que os instintos sobreponham às regras sociais eles estabelecem entre quatro paredes que a única regra é não falar nada sobre as vidas pessoais No segundo encontro, Jeanne (interpretada por Maria Schneider) diz: "é lindo não saber de nada!". Chegando ao extremo, substituem os próprios nomes por grunhidos. Assim subvertem o mundo, seus significados e os fetiches por uma vida onde o instinto sobrepõe. Talvez o verdadeiro sentido mundo além de rótulos, títulos, exigências sociais, onde as sensações prevalecem sobre os valores instituídos pela sociedade.
Bertolucci tinha apenas 32 anos quando dirigiu O Último Tango em Paris. Sem dúvida, uma obra-prima do cinema, madura, reveladora, provocadora e que nos faz repensar todos os nossos valores. Que nos faz questionar o sentido de cumulação, sendo que o maior sentido, no cerne, é apenas viver a vida.
Curiosidades – Marlon Brando não usava maquiagem e praticamente improvisou todas as suas falas, fazendo com que o personagem se confundisse com o ator real. Lançado em 1972, teve sua exibição proibida no Brasil até 1979 pelas cenas consideradas, na época, muito chocantes.
Ricardo Flaitt é jornalista
[email protected]