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André Ribeiro: “A politicagem fez acabar meu encanto pela F-1”

Ex-piloto fala sobre sua trajetória e sua relação com as competições automotivas

 

Em 1985, aos 19 anos, André Ribeiro se apaixonou pelo kart. Na época, estudante de Direito da PUC-SP, ele se aventurou nas pistas escondido da família e bancando o esporte com salário que ganhava como estagiário do Banco Safra. Para a fama, foi só um passo; ou melhor, uma acelerada. Em 1989 Ribeiro já estava na Fórmula Ford; um ano depois na F-Opel e, posteriormente, na F-3 Inglesa.

Nesta época deu os primeiros passos no árduo caminho da F-1, mas a politicagem escancarada acabou com o encanto. Na F-Indy é dono de três vitórias, em New England, em Michigan e no Rio de Janeiro.

Em 1998, André Ribeiro – nascido em São Paulo em 18 de janeiro de 1966 – deixou as competições e uniu-se a Roger Penske para investir no mercado automotivo brasileiro. Hoje, é acionista do Grupo UAB Motors. Nesta entrevista à Revista Free São Paulo em parceria com o Programa RB & Você, do apresentador Rodrigo Barros, o ex-piloto detalhou tudo o que aconteceu em sua vida.

– O que é mais difícil, o mercado empresarial ou estar nas pistas?

ANDRÉ RIBEIRO – São riscos diferentes. Quando a gente está nas pistas, o risco é físico, como bater no muro, por exemplo. E no mercado empresarial tem o risco do coração.

– Ano passado houve um grave acidente F-Indy, em Las Vegas [o piloto inglês Dan Wheldon morreu]. Como é você entrar no cockpit e saber que não poderá sair de lá vivo?

ANDRÉ RIBEIRO – É curioso. Você se reportou ao acidente que houve em Las Vegas e eu estava lá por uma razão especial, pois apoio a Bia Figueiredo, que é a única brasileira a competir internacionalmente. A repercussão do acidente no piloto é muito forte. E quando você corre, acredita que por mais que existam os riscos, isso nunca vai acontecer com você.

– Você também pensava assim?

ANDRÉ RIBEIRO – Eu sempre acreditei nisso. Toda vez que entrei nas pistas, mesmo no subconsciente sabendo que existem os riscos, mesmo no consciente os conhecendo, sempre acreditei que nunca iria acontecer comigo. Mas quando acontece, isso mexe de forma muito forte, porque [a vítima] é uma pessoa que está sempre próxima de você. É forte emocionalmente quando um incidente deste acontece.

– Como surgiu a paixão pelo automobilismo em sua vida?

ANDRÉ RIBEIRO – A primeira corrida que assisti ao vivo foi com 18 anos. Até então, acompanhava o esporte pela tevê. Desde menino eu acompanhava o Emerson [Fittipaldi] que estava no auge da Fórmula 1 e migrando para a Indy. Sempre gostei de corridas, mas nunca me envolvi. Quando assisti minha primeira corrida de kart, me apaixonei e resolvi entrar naquilo.

– Muitas dificuldades no início?

ANDRÉ RIBEIRO – Na minha família não tinha ninguém envolvido nisso, não dava para pedir dinheiro em casa. Pelo contrário, comecei escondido, ninguém sabia. Só meu irmão mais novo sabia – somos cinco irmãos – do meu envolvimento com corridas. Na época eu já trabalhava, fazia estágio no Banco Safra e com meu salário bancava o kart. Até que descobriram e quase que eu perdi o pescoço em casa.

– Como foi sua trajetória até a Indy?

ANDRÉ RIBEIRO – Eu fiz o caminho tradicional que a grande maioria dos pilotos segue que é o kart, a Ford (na minha época, uma categoria de base) e fui para a Europa, onde fiz Fórmula Opel e Fórmula 3 na Inglaterra. Daí, surgiu a oportunidade de ir para o caminho da F-1, mas foi tenebroso porque a politicagem, a forma falsa de interagir foi tão explícita que o meu encanto acabou. E paralelamente com isso, o automobilismo americano estava bem intenso na Inglaterra porque o [Nigel] Mansell tinha ido correr na Indy. Fui para os EUA e me apaixonei porque é uma forma diferente de fazer automobilismo.

– Ayrton Senna reclamava que a questão política era o que estragava o mundo da F-1. Houve algum avanço?

ANDRÉ RIBEIRO – Todo esporte é político. Mas a forma como nasceu o automobilismo na Europa e nos EUA é que foi diferente. Nos EUA quem corria eram os mecânicos patrocinados pelos donos dos carros ou pelos fabricantes. Na Europa quem corria eram os nobres. Enquanto o automobilismo europeu nasceu elitista, o americano nasceu popular, democrático. Até hoje essas raízes são muito fortes.

– Por que você largou a carreira de piloto muito cedo, aos 31 anos?

ANDRÉ RIBEIRO – Eu achei que chegou minha hora. É muito difícil falar isso. O fato é que esse é um esporte de risco. Quando você vê um amigo se arrebentando aqui, perdendo a vida ali, e surge uma oportunidade para você dar um passo de aposentadoria e encerrar aquele ciclo, é muito importante você pegar. Agora, foi muito difícil parar.

– Mas em alguma outra ocasião, você tinha pensando em parar?

ANDRÉ RIBEIRO – Não, de forma alguma. Eu ainda tinha contrato e não tinha atingido a maturidade de resultados, de conquistas etc. Mas surgiu a oportunidade de me associar ao Roger Penske, que era o dono da equipe em que eu corria, um empresário espetacular. Hoje, 12 anos depois, a associação não é mais com o pai, é com o filho, mas que acaba sendo próximo da família.

– Desde o Banco Safra, você já tinha visão empresarial pois ia sozinho buscar o próprio patrocínio. Foi fácil se adaptar ao mundo empresarial?

ANDRÉ RIBEIRO – No mundo empresarial ou você tem o dom ou vai se preparar. Eu não tinha nenhuma das duas coisas. Muitas coisas eu tive que aprender no sofrimento. Mas o trabalho em equipe é essencial e isso eu trago desde o automobilismo.

– Mas é  mais fácil para você formar equipes? É aquela questão de se trabalhar com o mito André Ribeiro?

ANDRÉ RIBEIRO – Eu não sei se no lado empresarial tem isso. Agora uma coisa difícil para mim foi sair de uma atividade onde eu era uma referência e passar para outra onde eu não era absolutamente nada.

– Como está a sua empresa,?

ANDRÉ RIBEIRO – Hoje temos quatro sócios acionistas e operadores. Nós dividimos as responsabilidades e a partir daí que é formada a equipe. Estamos em um processo grande de transformação. Começamos com duas concessionárias e estamos com 24 num espaço de tempo pequeno. É difícil imaginar que você consiga ter tudo estruturadinho, mas as pessoas vendo este crescimento, evidentemente surge o entusiasmo. Começamos com a Chevrolet e a Toyota e hoje trabalhamos com nove marcas. Somos o maior concessionário Honda do Brasil.

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