Andrew Solomon é uma das maiores autoridades em depressão. Ele mesmo vítima da doença, o autor americano escreveu um tratado sobre ela, lançado há 14 anos e agora republicado com algumas alterações pela Companhia das Letras, O Demônio do Meio-Dia. No ano passado, a mesma editora publicou outro premiado livro seu, Longe da Árvore – Pais, Filhos e a Busca da Identidade, vencedor do National Book Critics Circle Award em 2013, este uma extensa pesquisa sobre filhos bem diferentes dos pais, de crianças superdotadas a jovens diagnosticados como autistas ou esquizofrênicos, passando por adolescentes assassinos, como Dylan Klebold, conhecido pelo massacre de Columbine. Solomon entrevistou 300 pessoas para escrever o livro, recebendo entusiasmados elogios de críticos e até de ex-presidentes americanos.
Solomon, no entanto, diz que a melhor resposta aos seus livros é a imensa correspondência que recebe dos leitores, alguns, como ele, convivendo anos com o “demônio do meio-dia”. “Fico emocionado quando recebo cartas de leitores que revelam ter pensando em suicídio por causa da depressão e desistiram após ler meu livro”. Solomon não tem uma fórmula mágica para curar a depressão nem faz campanha contra as drogas promovidas pela indústria farmacêutica (talvez por respeito ao pai, executivo de um laboratório que lutou pela aprovação do remédio Celexa nos EUA). “Acho que a combinação de psicoterapia com o uso de medicamentos pode trazer bons resultados, mas não descarto terapias alternativas”. A dele, por exemplo, foi decidir ser pai, mesmo sendo gay. Ele teve uma filha com uma amiga da universidade, hoje com sete anos e vivendo com a mãe no Texas. Com o companheiro John Habich, jornalista que tem dois filhos biológicos com uma amiga lésbica, Solomon cria ainda outro filho, George Charles, hoje com cinco anos.
Formam uma família unida, garante o escritor, cuja outra grande paixão é a arte russa (ele tem um livro sobre artistas soviéticos que produziram durante a época da glasnost, The Irony Tower, publicado em 1991).
Solomon também se aventurou pela ficção, se bem que, no único caso, The Stone Boat, a história era baseada no drama pessoal de sua mãe, paciente terminal de câncer no ovário que escolheu o suicídio como alternativa para seu sofrimento.
Compreensível. Casos dolorosos como esse talvez só possam mesmo ser tratados de forma ficcional. “Gostei da experiência de escrever um romance, mas as pesquisas para meus livros de não ficção tomam muito tempo”, justifica, revelando que levou anos persuadindo a família Klebold a dar seu depoimento sobre a ação do filho Dylan na tragédia de Columbine, em que massacrou colegas de escola.
Pergunto a ele como explicaria o fato de uma família aparentemente normal ter um filho como Dylan. “A família Klebold, de fato, é integrada por pessoas amáveis, inteligentes, o que não corresponde ao estereótipo da família que abusou das crianças, traumatizando-as”. Isso só prova uma coisa, segundo Solomon: essa tragédia pode acontecer a qualquer um. É preciso, segundo ele, estar atento aos sinais que as crianças destrutivas emitem. “Devemos evitar culpar os pais”, recomenda.
“Tenho grande alegria em ser pai”, diz, classificando seu Longe da Árvore como “um livro sobre a experiência do amor”. No próximo, adianta, ele vai tratar da paternidade, mas principalmente da maternidade em todas as formas, de mães solteiras a lésbicas que adotaram crianças ou tiveram filhos biológicos com amigos. “Tanto como a depressão, que vem sendo estigmatizada desde a Antiguidade como loucura, espero desfazer esse equívoco de que famílias alternativas não são bons exemplos para as crianças”. Toda família é, de algum modo, disfuncional, como disse Tolstoi, mas o amor, garante Solomon, é o remédio certo para curar seus males.